Economia

Com aumento nas tarifas, calote na conta de luz dispara

No mês passado, o atraso no pagamento das contas de energia elétrica e de telefone cresceu o dobro da variação média da inadimplência em geral


	O calote nas contas de energia elétrica em maio aumentou 13,94% em número de pessoas em comparação a igual período do ano passado
 (REUTERS/Pilar Olivares)

O calote nas contas de energia elétrica em maio aumentou 13,94% em número de pessoas em comparação a igual período do ano passado (REUTERS/Pilar Olivares)

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Da Redação

Publicado em 22 de junho de 2015 às 08h32.

São Paulo - As altas das tarifas e da inflação em geral, combinadas com a retração da economia e com o aumento do desemprego, deixaram as famílias com menos dinheiro para pagar as despesas básicas, como luz, telefone e água.

No mês passado, o atraso no pagamento das contas de energia elétrica e de telefone cresceu o dobro da variação média da inadimplência em geral do consumidor na comparação com maio de 2014.

O calote nas contas de energia elétrica em maio aumentou 13,94% em número de pessoas em comparação a igual período do ano passado, enquanto a inadimplência média do consumidor avançou 6,7% no mesmo período e foi a maior marca desde dezembro de 2012, segundo dados do SPC Brasil.

A empresa, especializada em informações financeiras em todo País, constatou que a região Centro-Oeste registrou a maior alta na inadimplência das contas de energia elétrica, com 34,4%.

Estudo feito pela Serasa Experian, outra empresa especializada em informações financeiras, aponta para a mesma direção.

Entre janeiro e abril, a inadimplência das contas de luz foi 11% maior em relação ao primeiro quadrimestre de 2014 e quase três pontos porcentuais acima da atingida em dezembro do ano passado.

O aumento do calote se repete nos serviços de comunicação, que envolve principalmente telefonia fixa e móvel, e que registrou alta no atraso do pagamento de12,02% em maio comparado ao mesmo mês do ano passado, de acordo com o SPC Brasil.

Neste caso, o maior aumento ocorreu na região Norte (37,35%). Na conta de água, a inadimplência nacional cresceu 10,43% no período, com destaque para o Sudeste (16,03%), afetado pela crise hídrica.

Dívidas novas

Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, destaca que a inadimplência até 90 dias das contas de luz, por exemplo, cresceu num ritmo muito superior aos atrasos ocorridos há mais de três meses. "São as dívidas novas que estão puxando para cima inadimplência", afirmou a economista.

Reajustes extraordinários das tarifas tiveram impacto direto na inadimplência. No caso da energia elétrica, o aumento das tarifas foi de quase 60% nos últimos 12 meses, de acordo com o Índice de Preço ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) por causa do custo maior de produzir eletricidade.

No caso da água, a alta medida pelo mesmo indicador foi de 5,12% e, no pacotes de telefone com internet, de 2,81%. Mas a economista lembra que o aumento da inflação em geral também pesou no bolso dos consumidores. Em 12 meses, até junho, o IPCA-15 acumula uma alta de 8,80%.

"Vemos a inadimplência crescendo também nos bancos", diz Marcela. De acordo com o SPC Brasil, a inadimplência bancária, puxada principalmente pelo cartão de crédito e pelo cheque especial, aumentou 10,1% em maio ante o mesmo mês de 2014 e representou quase a metade das pendências.

O movimento foi ainda observado nos dados do Banco Central. Vitor França, assessor econômico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, ressalta que houve, nos últimos meses, um aumento do calote nas linhas de crédito emergenciais - isto é cartão de crédito e cheque especial -, enquanto a inadimplência em geral da pessoa física ficou estabilizada em torno de 5,3% em maio deste ano, o último dado disponível.

Na análise de Marcela, essa aparente incongruência entre o resultado do calote em geral e o das linhas de crédito emergenciais significa que as pessoas estão no seu limite financeiro e começaram a usar o cartão de crédito e o cheque especial para cobrir as despesas básicas do mês.

"Quando as coisas estão indo bem, essa ‘pedalada’ funciona porque o trabalhador sabe que vai continuar empregado. O problema é quando algo trunca essa ‘pedalada’, como o aumento da inflação, que ocorre agora", explica a economista. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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