Soja: "Tem pouca colheita, uma ou outra lavourinha", disse presidente da Aprosoja-MT (Lucas Ninno/Getty Images)
Reuters
Publicado em 5 de janeiro de 2018 às 18h57.
São Paulo - O Mato Grosso, que deve responder por cerca de 27% da safra de soja do Brasil em 2017/18, já começou a colheita das primeiras áreas da oleaginosa, que apontam para boas produtividades iniciais, disse nesta sexta-feira o presidente da Aprosoja-MT, associação que reúne agricultores do Estado.
Mas o rendimento agrícola das primeiras lavouras colhidas no Brasil em 2017/18, em áreas dos municípios mato-grossenses de Sinop (médio-norte), Sapezal (oeste) e Primavera do Leste (sudeste), provavelmente não se repetirá nas tardias, após atraso no plantio, devido a questões climáticas e de doenças, como as causadas pelo fungo da ferrugem.
"Tem pouca colheita, uma ou outra lavourinha, de quem arriscou em áreas que choveu em setembro, ou em áreas de pivô (de irrigação)... em Primavera e Sapezal. Pouco coisa colhida ao redor de Sinop...", declarou o novo presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso, Antonio Galvan, em entrevista à Reuters nesta sexta-feira.
Contudo, os trabalhos no principal Estado produtor de soja do Brasil, maior exportador global do produto, estão atrasados ante a temporada passada.
"Atrasou muito o plantio nesta safra, na passada já tinha muita gente colhendo nesta época, 2016/17 foi melhor de chuva e começou a chover cedo e não parou... Mas na próxima semana vamos ter diversas lavouras sendo colhidas, e vai dar para ter ideia do que está produzindo", acrescentou ele, em entrevista por telefone.
Galvan, que assumiu a presidência da Aprosoja-MT neste mês, mora em Sinop e planta cerca de 3,5 mil hectares de soja nos municípios vizinhos de Vera e Santa Carmem, integrantes de uma das maiores regiões produtoras do Estado, o médio-norte.
Ele ponderou que as lavouras prontas para colheita estão "aparentemente" em condições adequadas, mas isso não significa que a safra como um todo está melhor que a do ano passado.
"As primeiras lavouras estão muito boas, se vai resultar em produtividade, eu não sei", comentou.
Ele lembrou que o atraso no plantio nesta safra deverá evitar que o Estado tenha uma nova safra recorde em 2017/18, após uma colheita com condições excelentes na temporada anterior.
O Ministério da Agricultura estima a safra de Mato Grosso em 30,1 milhões de toneladas, ante históricas 30,5 milhões de toneladas em 2016/17, enquanto a colheita nacional está projetada em 109 milhões de toneladas, ante recorde de 114 milhões no ciclo passado.
Uma pesquisa da Reuters com analistas privados e instituições apontou uma produção média de 110,2 milhões de toneladas.
Mas na avaliação de Galvan os números de Mato Grosso deverão ser revisados para baixo, ainda por efeito do atraso no plantio.
"Houve muita área que ficou sem plantar e plantou algodão, muita gente 'matou' lavouras de soja, desistiu da soja, que ficou mal germinada, para plantar o algodão, nada significativo, mas acreditamos que devemos ter redução da área (projetada), concluiu.
Além disso, ele ressalta que normalmente a soja plantada mais tarde produz menos por questões climáticas, o que aconteceu em maior medida nesta safra.
"Plantou-se muita soja em novembro, assim as últimas lavouras colhidas vão cair muito na média da produtividade, e a safra passada não teve problema, Mato Grosso acabou o plantio em outubro, e este ano, acredito, tivemos 50% do plantio em novembro."
Segundo Galvan, as lavouras plantadas mais tarde ficam mais sujeitas a infestações de ferrugem da soja, o que reduz a produtividade, se o controle não for feito adequadamente, e eleva custos.
"A doença consegue derrubar a produtividade, a doença é um fator, mas tem o clima mesmo", disse Galvan, que nasceu no Rio Grande do Sul, mas já atua em Mato Grosso há 31 anos.
A menor produtividade é mais um problema que o agricultor de Mato Grosso terá de lidar em 2017/18, uma safra que deverá ter custos maiores, puxados principalmente por preços do diesel, usado tanto no manejo das lavouras como no transporte da safra.
"O combustível subiu o preço, o defensivo subiu muito... aumento de combustível eleva tudo, eleva o frete... Isso tira (desconta) do preço do produto (soja), a turma está reclamando."
Na média Brasil, o preço do diesel vendido nos postos aumentou quase 10% em 2017 ante 2016, segundo pesquisa da agência reguladora do petróleo ANP divulgada na véspera.
Segundo Galvan, as indicações de preços para as primeiras colheitas na região do médio-norte estão menores que no mesmo período do ano passado, após os Estados Unidos e o Brasil colherem safras recordes no ano passado, uma preocupação em momento de maiores custos.
Ele afirmou que os produtores de sua região chegaram a vender soja no início da colheita no ano passado a 60 reais por saca de 60 quilos, ante indicações de 54 a 55 reais atualmente.
"Se confirmar a previsão (de preço), vai ser um desastre para o setor, vai ficar conta pendurada à vontade... Hoje o preço é a grande preocupação, não tem produtividade que cubra o que o mercado está oferecendo", declarou, ressaltando que essa situação financeira traz preocupações para as próximas safras.
Diante deste cenário e de um atraso colheita de soja, que fará com que parte do milho seja plantada fora da janela climática ideal, Galvan acredita que a produção no maior produtor brasileiro do cereal também deverá recuar em 2017/18.
O milho é plantado logo após a colheita de soja em Mato Grosso.