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Da Redação
Publicado em 11 de julho de 2012 às 13h40.
Brasília - Diante dos sinais claros de que a economia brasileira não está conseguindo se recuperar, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) reduziu nesta quinta-feira a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país de 3 para 2,1 por cento neste ano.
O principal efeito é o menor crescimento da indústria, cuja previsão de expansão também foi cortada, de 2 para 1,6 por cento no período, segundo a CNI.
Essa deterioração das perspectivas ocorre mesmo com os seguidos cortes na taxa básica de juros, com o câmbio mais favorável e os diversos pacotes do governo para tentar reativar o crescimento da economia.
"A crise internacional se aprofundou no fim de 2011 para cá, com recessão na zona do euro, crescimento americano mais moderado e com os emergentes em desaceleração. Com isso, a demanda mundial se retrai e afeta o Brasil", afirmou o gerente-executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.
O pior desempenho da indústria vem do setor de transformação, que tem crescimento previsto em 1 por cento neste ano, queda de 0,5 ponto em relação à estimativa anterior. Já a área de construção civil tem alta prevista de 3 por cento, contra 3,3 por cento antes.
Para Castelo Branco, o efeito da política monetária tem se mostrado menos eficaz devido à maior cautela do setor industrial em aumentar os investimentos. Mesmo assim, a CNI aposta em mais cortes na Selic, cuja previsão é encerrar o ano a 7,50 por cento, contra 9 por cento previstos antes.
Hoje, a taxa básica de juros do país está na mínima histórica de 8,50 por cento ao ano e a expectativa do mercado é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) a reduzirá para 8 por cento nesta noite, como parte de uma ação para estimular a economia.
O próprio consumo está dando sinais de dificuldades. As vendas no varejo brasileiro caíram em maio 0,8 por cento frente a abril, a maior queda desde novembro de 2008.
Esse cenário é apimentado pelo aumento da inadimplência dos consumidores, chegando a 6 por cento em maio, maior nível desde o início da série histórica do BC.
Com isso, a CNI prevê que o consumo das famílias terá crescimento de 3,5 por cento neste ano, 0,5 ponto a menos do que na estimativa anterior.
"Medidas de estímulo ao consumo estão mostrando efeitos mais limitados porque as famílias estão com comprometimento de renda mais elevado e a inadimplência segue alta. Então, a resposta desses estímulos são mais limitadas", disse Castelo Branco.
O governo tem estimulado o consumo através de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis, linha branca, móveis e alguns artigos de decoração.
No ambiente de menor consumo e mais dificuldades na indústria. A CNI também fez uma forte redução na previsão de expansão da Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida de investimentos, de 5,6 para 2,5 por cento neste ano. Para consumo das famílias, a perspectiva agora é de alta de 3,5 por cento, contra 4,0 por cento na projeção anterior.
Efeitos de crise externa
A CNI atualizou suas estimativas para deixá-las em linha com um cenário de agravamento do cenário mundial e com a lentidão da recuperação da economia brasileira.
A entidade tem sustentado que a crise internacional é de longa duração por conta das dificuldades profundas na Europa e da recuperação econômica dos Estados Unidos ainda fraca.
Com isso, a CNI passou a projetar que o dólar chegará no final de 2012 a 2 reais, contra 1,80 real na versão anterior. As contas para superávit comercial tiveram leve redução, de 20,8 bilhões de reais para 20,2 bilhões de reais, neste ano.
Essa estimativa deve-se a uma piora nos dados esperados para o comércio exterior neste ano. As exportações foram rebaixadas de 275,4 bilhões para 263,2 bilhões de reais, enquanto que as importações, 254,6 bilhões para 243 bilhões de reais.
O Banco Central estima que a economia brasileira vai crescer 2,5 por cento este ano, apesar de o ministro da Fazenda, Guido Mantega ainda sustentar que a expansão do PIB será superior aos 2,7 por cento vistos no ano passado.
No primeiro trimestre deste ano, o PIB cresceu apenas 0,2 por cento na comparação com os últimos três meses de 2011. A indústria é o setor que mais vem encontrando dificuldade em se recuperar sendo que, em maio, a produção do setor caiu 0,9 por cento.
Na semana passada, a CNI informou que a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) na indústria brasileira caiu em maio para o pior nível desde setembro de 2009.