PIB do Brasil: no início do ano, a previsão era de crescimento de 2,6% (Nelson_A_Ishikawa/Thinkstock)
Estadão Conteúdo
Publicado em 12 de dezembro de 2018 às 14h42.
Brasília - A Confederação Nacional da Indústria (CNI) espera que o PIB brasileiro encerre o ano de 2018 com alta de 1,3 por cento, mesmo patamar divulgado em outubro. No início do ano, a previsão era de crescimento de 2,6 por cento. "O adiamento das reformas foi um dos fatores que prejudicou o desempenho da economia e da indústria neste ano", afirmou a entidade, que divulgou nesta quarta-feira, 12, edição especial de seu Informe Conjuntural.
A previsão para o PIB da indústria também é de alta de 1,3 por cento, abaixo dos 3 por cento estimados no início do ano e no mesmo porcentual da última estimativa. A previsão é que o investimento aumente 5,1 por cento em 2018 e o consumo das famílias aumente 2,1 por cento.
A previsão é que a taxa de desemprego fique em 12,2 por cento e a inflação 3,8 por cento, abaixo do patamar previsto em outubro, de 4,4 por cento. Para o resultado primário, a previsão é de déficit de 1,76 por cento, enquanto, para a dívida pública bruta, a expectativa é que encerre o ano em 77,1 por cento.
A CNI prevê ainda que o saldo da balança comercial fique em 53 bilhões de dólares neste ano, patamar próximo ao já alcançado. Para a conta corrente, a previsão é de déficit de 15 bilhões de dólares.
O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, disse ter expectativa "muito forte" de que o governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro, consiga aprovar a reforma da Previdência. "Todos sabem que a principal reforma que precisamos fazer é a reforma da Previdência", afirmou. "Todos sabem que essa é uma reforma importantíssima para o país avançar e que deveria ser a primeira reforma."
Andrade destacou que a aprovação da reforma da Previdência será uma sinalização importante para o mercado, para os investidores e também para o mercado de trabalho. "É a reforma que dará a sustentação para a economia brasileira no futuro", afirmou.
O presidente da CNI ponderou, porém, que o governo terá de buscar outras formas de reduzir seus gastos, por meio de uma reforma administrativa que diminua gastos obrigatórios, como os de pessoal.
Sobre o episódio envolvendo as movimentações financeiras atípicas do ex-motorista do senador eleito Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente eleito, Andrade disse esperar que isso não atrapalhe o andamento das reformas.
"Temos tido informações sobre isso pela imprensa e não temos posição. Mas espero que não haja perturbação do ambiente político para reformas", disse.
Andrade reconheceu que o País concede muitas isenções e incentivos fiscais, e que a redução desse gasto deve ser um dos alvos do governo Bolsonaro. Ele cobrou, porém, a manutenção de políticas diferenciadas para que indústrias possam se instalar fora dos grandes centros de consumo, como os das regiões Sudeste e Sul.
Na terça-feira, os deputados aprovaram projeto de lei que prorroga incentivos fiscais para empresas instaladas nas áreas de atuação das superintendências do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), do Nordeste (Sudene) e do Centro-Oeste (Sudeco).
"Ontem tivemos a aprovação do projeto de lei da Sudene e Sudam. O Brasil é um país grande, com muitas diferenças e diversidades", disse. "Precisamos de uma política de desenvolvimento diferenciada. Se tivermos uma política igual em todos os Estados, provavelmente os investimentos ficarão concentrados do Sul e Sudeste."
Andrade disse que o agronegócio conta com uma política de financiamento de juros baixíssimos e seguro contra intempéries, além de pagar, proporcionalmente à indústria, poucos impostos e previdência. "Quem tem mais incentivo fiscal e isenções? Temos isenções de todas as ordens e setores, na agricultura, indústria e serviços. Claro que os R$ 300 bilhões são um valor elevado e merecem análise crítica", disse.
O presidente da CNI também defendeu que o novo governo do presidente eleito Jair Bolsonaro faça inicialmente uma reforma tributária para simplificar o pagamento de impostos, seguida pela criação de um imposto sobre valor agregado (IVA). "A reforma tributária não pode ser feita para entrar em vigor amanhã. Tem que ter prazo. Quem tem que pagar imposto é que consome, não quem produz", afirmou.
Depois que a CNI saiu perdedora no pleito de manter um ministério para o setor, Andrade disse que tem tido conversas "bastante fluida" com a equipe do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, e secretários e que a decisão de colocar a indústria dentro do novo ministério pode fortalecer a área.
"Queremos desenvolver a indústria e crescer em qualquer governo.Vamos trabalhar juntos, espero que as coisas sigam na direção do crescimento", afirmou Andrade.
O diretor de Políticas e Estratégia da CNI disse que o fortalecimento das agências reguladoras e o fim da influência política na escolha de diretores são fundamentais para atrair o capital privado para novos projetos de infraestrutura.
"O setor privado precisa de agências reguladoras profissionais, com menos influência política, para gerar segurança para assinatura de contratos de 30 ou 40 anos, que sofrem revisões e mudanças ao longo desse período", comentou.
Ele cobrou ainda que o novo governo enfrente a questão do custo da energia, que é um dos maiores obstáculos à competitividade da indústria, na avaliação da CNI. "Um dos temas mais complexos e de maior impacto é o custo da energia, que tem uma série de passivos. O governo terá que construir novas regras", afirmou.
Fernandes disse ainda que a questão do mercado de gás natural deve ser enfrentada. "Houve um impasse no projeto de lei por causa das distribuidoras de gás", comentou. Ele também cobrou mais concorrência no mercado de combustíveis.