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Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h42.
Rio de Janeiro - O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Odair Dias Gonçalves, avaliou como vitoriosa a atuação do governo brasileiro na negociação sobre a troca de combustível nuclear, firmado pelo Irã. Pelo acordo, o Irã enviará urânio enriquecido a 3% para a Turquia, que devolverá o elemento enriquecido a 20%.
"Para o Brasil é uma vitória enorme. Primeiro, uma projeção enorme do país. Segundo, [sinal de] uma confiança no programa nuclear brasileiro. Foi uma jogada diplomática muito inteligente", disse. O presidente da Cnen lembrou que "o Brasil está investindo muito no novo programa nuclear e isso [a mediação no acordo assinado pelo Irã] não deixa de contribuir para que o programa seja implementado com mais clareza".
Mas, do ponto de vista do problema interno do Irã, acusado pelos Estados Unidos de esconder a produção de armas atômicas ao dizer que o enriquecimento de urânio a 20% é alvo de seu programa nuclear, com fins energéticos, Gonçalves acredita que o acordo apenas adia o problema do país islâmico.
Pela proposta, o Irã entregaria o urânio a uma taxa de cerca de 3,5% de enriquecimento e receberia urânio enriquecido a 19,9%, que é a taxa necessária para o uso em reatores de pesquisa para medicina nuclear, com funções de diagnóstico, radiografia com contraste ou radioterapia. "Não foi possível o acordo, antes, por desconfiança das partes sobre a troca. O que se busca agora é uma solução para esse impasse. O problema é que os Estados Unidos não acreditam que o Irã desenvolva urânio para fins pacíficos. O acordo agora é específico. Com esse acordo, daria mais tempo para discutir sanções contra o Irã", disse Gonçalves.
Para o presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Guilherme Camargo, a questão fundamental é que os Estados Unidos não querem que o Irã tenha a planta de enriquecimento de urânio, mesmo que a proibição não esteja prevista em qualquer tratado internacional, inclusive no Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP).
Camargo disse que, apesar da resistência dos Estados Unidos e dos países europeus, o acordo é positivo. "É positivo para as relações internacionais e para aclarar para a opinião pública e, efetivamente, mostrar o que está em jogo nessa discussão sobre sanções. Retirar o emocional dessa discussão querendo apresentar o Irã como um país fora da lei, o Ahmadinejad [Mahmoud Ahmadinejad, presidente do Irã] como novo Hitler. Isso é uma tendência muito estimulada, principalmente pelo Departamento de Estado norte-americano, querendo demonizar um país e seu povo."
O presidente da Aben elogiou a atuação diplomática do Brasil, que tem um programa nuclear em desenvolvimento, ainda em fase embrionária. "Quaisquer sanções que venham a ser impostas ao Irã, poderão ser impostas futuramente ao Brasil", afirmou.