Renda: Esse resultado ocorreu porque a classe média brasileira perdeu mais renda (em média, 4,2%) (Dreamstime/Reprodução)
Agência de notícias
Publicado em 14 de fevereiro de 2023 às 07h17.
A desigualdade no Brasil aumentou no primeiro ano da pandemia, de acordo com o estudo "Mapa da Riqueza no Brasil", realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) com dados do Imposto de Renda e da PNAD Contínua. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira.
A pesquisa, coordenada por Marcelo Neri, calculou o índice de Gini do país e chegou a um resultado mais grave que o da PNAD, estudo conduzido pelo IBGE a partir de pesquisas domiciliares. O coeficiente no país em 2020 aferido pelo estudo foi de 0,7028, ante 0,6013 da PNAD Contínua. O indicador varia de 0 a 1 e quanto maior o número, maior é a desigualdade de distribuição de renda.
Esse resultado ocorreu porque a classe média brasileira perdeu mais renda (em média, 4,2%) do que o 1% mais rico da população brasileira em 2020 (perdeu 1,5%), de acordo com o levantamento.
O estudo mapeou fluxos de renda e estoques de ativos dos brasileiros mais ricos a partir dos dados do último Imposto de Renda. Analisou os dados de concentração de renda e patrimônio por unidades da federação, municípios e regiões administrativas do Brasil. Segundo Neri, a análise "é útil para desenho de reformas nas políticas de impostos sobre a renda e sobre o patrimônio". O estudo pode ser lido aqui.
"A desigualdade de renda no Brasil é ainda maior do que o imaginado quando incorporamos o topo da distribuição usando dados do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), indo para ponta do ranking mundial. Se a fotografia da distribuição de renda é péssima, o filme da pandemia também é. (...) Mesmo com o Auxílio Emergencial que preservou a renda dos mais pobres, a desigualdade não caiu em 2020, como se acreditava", diz o sumário executivo da pesquisa.
"O IRPF consegue captar melhor a renda proveniente do ganho de capital, como os lucros no mercado financeiro ou distribuído pelas empresas, por isso traz mais realismo para o rendimento dos mais ricos", diz outro trecho do documento. O método usado pela equipe coordenada por Neri é o mesmo utilizado pelo economista francês Thomas Piketty em sua pesquisa para o best seller 'O Capital no Século XXI'.
Entre os estados, Distrito Federal é o que tem a maior renda mensal média do país, de R$ 3.148, seguido por São Paulo, com R$ 2.063, e Rio de Janeiro, com R$ 1.754. Na outra ponta, aparecem Maranhão, com renda mensal média de R$ 409 por habitante, seguido por Pará, com R$ 507, e Alagoas, com R$ 552. A renda média no país foi de R$ 1.310. Todos os dados são de 2020.
O patrimônio líquido médio também é maior no Distrito Federal (R$ 94.684). Na sequência, aparecem São Paulo (R$ 90.776), Rio Grande do Sul (R$ 64.113), Santa Catarina (R$ 63.414) e Rio de Janeiro (R$ 63.128).
Entre os estados com menor patrimônio, a situação é análoga à da renda. Maranhão é o que tem o pior indicador (R$ 6.329), seguido novamente por Pará (R$ 8.981) e Alagoas (R$ 12.556). A média nacional foi de R$ 47.432.
O município brasileiro com a maior renda média em 2020 foi Nova Lima, localizada na região metropolitana de Belo Horizonte (R$ 8.897 mensais). Em seguida, aparecem as cidades de Aporé (GO), com R$ 8.109; Nova Alvorada (RS), com R$ 6.150; Santana de Parnaíba (SP), com R$ 5.791, e São Caetano do Sul, R$ 4.698. Entre as capitais, a que tinha maior renda média per capita em 2020 é Florianópolis (R$ 4.215), seguida por Porto Alegre (R$ 3.775) e Vitória (R$ 3.736).
A desigualdade também é grande dentro de uma mesma cidade. Ao analisar as disparidades em Brasília, por exemplo, a equipe da FGV verificou que a renda média mensal por habitante no Lago Sul, zona nobre da capital, era de R$ 23.141, valor quase três vezes superior ao do município de Nova Lima, o mais rico do Brasil. O patrimônio líquido médio da população do Lago Sul é de R$ 1,43 milhão.