Brexit: a decisão espalhou o medo no "Square Mile" (Reuters/Toru Hanai/Reuters)
AFP
Publicado em 28 de novembro de 2016 às 09h04.
O voto a favor do Brexit abalou o bairro financeiro da City de Londres, mas não provocará a sua queda - prometeu seu principal embaixador e lobista, o prefeito Andrew Parmley.
"Há tempestades, mas vamos superá-las uma a uma", disse Andrew Parmley, que recebeu a AFP em sua residência oficial da Mansion House, um grande prédio cinza situado na frente do Banco da Inglaterra, no coração da City.
Enquanto a cidade de Londres tem um prefeito apenas desde o ano 2000, o "Lord Mayor" preside há oito séculos esse bairro, onde moram cerca de oito mil pessoas, mas por onde passam mais de 450 mil assalariados todos os dias, principalmente do setor bancário e financeiro.
Parmley, de 60 anos, é o 689º prefeito da City. Assumiu o cargo em 11 de novembro, em um clima com "alguns desafios", relativizou ele, ao se referir ao voto dos britânicos de sair da União Europeia.
A decisão espalhou o medo no "Square Mile", que teme perder seu estatuto de principal centro financeiro mundial junto com Wall Street, em Nova York.
Além da incerteza gerada pelas negociações com Bruxelas, a principal preocupação da City é a perda do "passaporte" europeu, um dispositivo que lhe permite vender um produto financeiro no conjunto da UE, sem precisar da aprovação dos 28 entes reguladores nacionais.
"Algumas empresas projetam trasladar suas atividades, não há dúvida", disse Parmley.
Mas, "até agora, ninguém anunciou que iria deixar Londres. A maioria das pessoas está na expectativa", garantiu.
"Gostaríamos que as coisas se acelerassem um pouco, ter um pouco mais de clareza, de certeza sobre o que o governo nos oferece", afirmou Parmley.
Enquanto isso, seus serviços "trabalham em estreita colaboração com o governo para avaliar a situação" e defender os interesses das 17 mil empresas da City e de outros centros financeiros do país.
Parmley considera "muito pouco provável" conservar o passaporte europeu em sua forma atual e acredita em que o governo "nos oferecerá algo que se pareça com ele, ou encontrará uma forma de facilitar os negócios com nossos colegas europeus".
O prefeito de Londres, Sadiq Khan, cogita a possibilidade de criar um "visto londrino, estamos examinando uma série de vistos regionais".
A City também está "muito preocupada" com a perda das atividades de compensação em euros - o papel de intermediário entre o vendedor e o comprador de produtos financeiros negociados na divisa europeia -, das quais dependem 83 mil empregos no Reino Unido, segundo o jornal Financial Times.
Frente ao apetite de outros centros financeiros, como Frankfurt, Paris, ou Amsterdã, Parmley avalia que essas cidades não podem rivalizar com Londres, sobretudo, em termos de infraestruturas.
"Temos os edifícios, temos as pessoas", sem contar o inglês, a língua dos negócios, enumera.
A oferta cultural e educacional reforça os atrativos de Londres, acrescenta ele.
"As pessoas que vêm viver e trabalhar aqui sabem que, quando você não está trabalhando, há muitas outras coisas para fazer, que seus filhos serão bem educados", insiste.
Finalmente, Parmley sinaliza que avalia várias possibilidades, entre elas, a de que a City olhe "para os países emergentes, que temos ignorado até agora".