Segundo dados do Banco Central, o volume emprestado no cartão de crédito subiu 35% entre abril de 2013 e março deste ano, enquanto no cheque especial avançou 28% (Marcos Santos/USP Imagens)
Da Redação
Publicado em 25 de maio de 2015 às 10h04.
São Paulo - O ciclo de alta da Selic completou dois anos em abril e, apesar de o juro estar mais caro no cheque especial e no cartão de crédito, o consumidor elevou o uso desses empréstimos.
Segundo dados do Banco Central, o volume emprestado no cartão de crédito subiu 35% entre abril de 2013 e março deste ano, enquanto no cheque especial avançou 28%. O aumento de gastos fixos e a queda da renda são alguns dos motivos que fazem o brasileiro recorrer a estas modalidades.
Além da situação da economia, especialistas apontam outros motivos para o crescimento. "Estas são as duas linhas de crédito pré-aprovado mais facilmente disponíveis no mercado", diz o diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Anefac, Miguel de Oliveira.
No caso do cartão, o uso pode ser benéfico. O consumidor pode concentrar gastos e parcelar a compra de bens que não poderia pagar à vista. O problema começa quando ele não paga a fatura e entra no crédito rotativo. "O rotativo é algo emergencial, para ser utilizado já esperando receber um dinheiro para cobrir a conta", diz o diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), Ricardo Vieira.
O mesmo pensamento de crédito de curto prazo deveria ser utilizado para o cheque especial, mas isso não ocorre. "As pessoas tendem a achar que a dívida é algo momentâneo, que no mês seguinte irão regularizar a situação", diz o sócio do Guia Bolso, Thiago Alvarez. O juro alto, porém, faz com que quanto mais tempo se passa, maior vai se torne a conta.
Outro erro comum é ter mais de um cartão de crédito, o que implica em mais tarifas e maior dificuldade em controlar as contas. O coordenador do Núcleo de Superendividamento do Procon-SP, Diógenes Donizete, diz que houve um caso no qual a pessoa possuía 26 cartões.
Dívida
Um dos problemas destas duas linhas de crédito é que, diferentemente do financiamento imobiliário, não há um controle rigoroso do limite de gastos.
Alvarez recomenda que, no total, as dívidas do consumidor não ultrapassem 15% da renda, pois, caso contrário, sobe o risco dele virar um devedor.
O Guia Bolso também indica que o consumidor tenha uma reserva de seis meses para que, em uma emergência, não precise recorrer ao crédito caro.
Outra sugestão é entender melhor como as modalidades funcionam e não achar que o crédito faz parte da renda. "O consumidor incorpora o limite do cartão e do cheque à renda. Ou seja, fica com a capacidade de comprar três e pagar um", diz o professor do Instituo Educacional da BM&FBovespa, José Alberto Netto Filho.
Os especialistas são unânimes em dizer que o devedor precisa substituir o cartão de crédito e cheque especial por algo mais barato, como empréstimo pessoal e consignado. No crédito pessoal, por exemplo, o juro anual é de cerca de 100%, ou seja, um terço menor do cartão.
O segundo passo é cortar a fonte da dívida. "É um erro pegar um empréstimo pessoal, mas continuar com as linhas de cheque especial e cartão de crédito abertas, pois em algum momento o devedor vai cair de novo nelas", diz Donizete.
Para aqueles que perderam o controle dos gastos e chegaram à situação crítica de não conseguir pagar itens de subsistência, como aluguel e comida, há o Programa de Apoio ao Superendividado do Procon-SP. Nele, especialistas fazem uma análise completa da situação financeira e ajudam o devedor a negociar a dívida. Já no Instituto Educacional da Bolsa há palestras gratuitas sobre orçamento.