Christine Lagarde: Lagarde vai depor à comissão de instrução da Corte de Justiça da República (CJR), integrada por magistrados e parlamentares. (Chip Somodevilla/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 18 de abril de 2013 às 17h08.
Paris - A diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, será interrogada pela justiça francesa no fim de maio em uma investigação por "cumplicidade de falsificação e fraude de fundos públicos", informou seu advogado.
Christine Lagarde será interrogada sobre seu papel, quando era ministra francesa das Finanças, na solução da divergência entre o empresário Bernard Tapie e o banco Crédit Lyonnais.
Em Washington, Lagarde declarou que "não há nada novo". Isso "não muda em nada minha determinação, minha concentração e meu entusiasmo para exercer minhas funções como chefe do Fundo Monetário Internacional", disse, afirmando que espera ansiosamente poder responder a solicitação da justiça.
Ministra de 2007 a 2011, até ser nomeada para o FMI, Lagarde é investigada por sua decisão de recorrer a uma arbitragem privada para solucionar a disputa entre Tapie e o banco a respeito da venda da empresa de artigos esportivos Adidas.
Lagarde vai depor à comissão de instrução da Corte de Justiça da República (CJR), integrada por magistrados e parlamentares, que é a única habilitada na França para julgar os ministros por fatos ocorridos no exercício de sua função.
"Lagarde terá finalmente a oportunidade de dar à comissão, pela primeira vez, as explicações e precisões que a isentam de qualquer responsabilidade penal", declarou seu advogado, Yves Repiquet.
Segundo o portal Mediapart, a audiência acontecerá em 23 de maio.
Um tribunal arbitral privado condenou em julho de 2008 o Consórcio de Realização (CDR), entidade pública que administrava o passivo do Crédit Lyonnais após sua quase falência nos anos 90, a pagar a Tapie 285 milhões de euros de indenização, valor que chegou a 400 milhões com os juros.
Considerando "contestável", o recurso a tal arbitragem, a CJR considera que Lagarde teve envolvimento pessoal em um procedimento que apresenta "muitas anomalias e irregularidades".
A atual diretora do FMI sempre justificou o recurso à arbitragem como uma forma de solucionar um procedimento que ela considerava longo e caro e desmentiu toda implicação do então presidente Nicolas Sarkozy.
No final de janeiro, reiterou que essa opção era "a melhor solução na época".
Apesar disso, o procurador do tribunal de cassação recorreu à CJR para acusar Lagarde.
O fiscal reprova o fato de ela ter recorrido a uma arbitragem privada quando se tratava de fundos públicos, ter estado consciente da parcialidade de certos juízes da arbitragem, ter gerado modificações no protocolo inicial para integrar uma noção de prejuízo moral (o que permitiu que Tapie cobrasse uma indenização de 45 milhões) e não ter apelado dessa arbitragem, quando vários especialistas recomendaram.
Contatado pela AFP, o FMI não quis fazer comentários.
No final de março, a instituição tinha afirmado sua confiança em Lagarde.
O FMI destacou que seu conselho de administração tinha sido informado sobre este assunto antes da nomeação de Lagarde como diretora gerente da instituição, em julho de 2011, em substituição a Dominique Strauss-Kahn, que foi obrigado a renunciar por causa das acusações de agressão sexual em maio de 2011.