Manifestantes protestam no Chipre: caso seja finalmente resgatado, o Chipre se converterá no quinto programa de resgate na Eurozona desde a eclosão da crise. (REUTERS / Yorgos Karahalis)
Da Redação
Publicado em 21 de março de 2013 às 14h59.
Bruxelas - A crise no Chipre, uma pequena ilha do Mediterrâneo, representa um risco sistêmico e uma ameaça com "consequências nefastas" para as economias mais frágeis da Eurozona, como Itália e Espanha, quando o pior da crise europeia parecia ter ficado para trás.
A situação na ilha "representa um risco sistêmico e temos que trabalhar em favor de um programa que permita acabar com este risco", considerou o chefe do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, ao defender no Parlamento Europeu o plano estabelecido com as autoridades cipriotas com base em um imposto sobre os depósitos bancários.
O país, que constitui apenas 0,2% do PIB da Eurozona, se tornou nos últimos dias em um pesadelo para o bloco, e muitos já falam de sua saída da moeda única.
"As autoridades cipriotas têm três opções até terça-feira: apresentar um plano B crível e viável, instaurar um bloqueio de capitais por um período suficientemente longo e preparar a fusão entre os dois principais bancos", explicou à AFP uma fonte europeia que pediu o anonimato.
Do contrário, o Chipre deverá sair da Eurozona, advertiu.
Os credores do Chipre (Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu) prometeram há uma semana à ilha um resgate de 10 bilhões de euros para evitar sua quebra. Em troca, Nicósia deverá arrecadar 7 bilhões de euros. Deles, 5,8 bilhões devem ser coletados por meio de impostos sobre os depósitos bancários.
Segundo o plano inicial, os depósitos de menos de 100.000 euros, que teoricamente estavam assegurados pelo Fundo Europeu de Garantias, seriam submetidos a um imposto de 6,75%, enquanto os superiores a 100.000 euros seriam taxados em 9,9%.
No entanto, após a onda de pânico e indignação no continente e a sua rejeição no Parlamento cipriota, o plano foi alterado e agora a Eurozona quer que sejam taxados apenas os depósitos superiores a 100.000 euros.
Em Nicósia, os líderes políticos cipriotas saíram de uma reunião com o presidente Nicos Anastasiadis nesta quinta-feira afirmando que, segundo um plano alternativo recém acordado entre eles, nenhuma conta será taxada.
O chefe do Eurogrupo insistiu que não há "muitas alternativas" para salvar este pequeno país com um sistema bancário desproporcionalmente grande (seis vezes maior que seu PIB), graças, em grande parte, à incessante entrada de capital estrangeiro atraído por uma fiscalização benevolente.
E lembrou que a "maioria dos depósitos bancários no Chipre não são realmente economias, mas investimentos", em sua maioria de milionários russos pertencentes à máfia.
As autoridades decidiram fechar os bancos da ilha até terça-feira, diante do temor de que os clientes saquem massivamente seu dinheiro, o que trouxe à tona as lembranças do "corralito" decretado em 2001 pelo governo de Fernando de La Rúa para evitar que os fundos saíssem das fronteiras da Argentina.
O BCE decidiu manter a provisão de liquidez de emergência aos bancos cipriotas até segunda-feira. Mas este balão de oxigênio tem data de validade, já que a instituição com sede em Frankfurt condicionou o prosseguimento dessa linha à aprovação de um programa.
"No passado nos ensinaram que um pequeno problema pode se tornar gigantesco", advertiu Holger Scmieding, economista-chefe do banco alemão Berenberg.
Embora o Chipre represente o PIB de uma das regiões mais pobres da Alemanha, uma saída deste país do Euro "provocaria grandes turbulências de consequências nefastas" para Espanha e Itália, acrescentou.
Até poucos dias atrás, os líderes afirmavam que o pior da crise havia passado, sobretudo porque ninguém mais falava de uma saída de um país do euro, como foi o caso há um ano, quando a Grécia fazia o bloco tremer.
Caso seja finalmente resgatado, o Chipre se converterá no quinto programa de resgate na Eurozona desde a eclosão da crise, seguindo os passos de Grécia, Portugal e Irlanda. A Espanha recebeu recentemente uma ajuda milionária ao seu setor financeiro.
Nos últimos dias, a incerteza passou para as bolsas europeias, que sofreram várias turbulências.
Uma saída do Chipre voltaria a atingir os prêmios de risco dos países do sul do continente, que nos últimos meses se estabilizaram.
Por esse motivo, é do interesse de todos encontrar uma solução. "A Eurozona poderá ameaçar o Chipre afirmando que, caso não cumpra as condições de resgate, deverá sair do euro. Mas Rússia, Alemanha e a Eurozona sabem que este cenário prejudicará enormemente suas economias", considerou um analista do HSBC.