Manifestante cipriota mostra cartaz onde se lê "Tirem as mãos do Chipre", em frente ao Parlamento em Nicósia: o mal-estar com a ilha já se expressa abertamente (Patrick Baz/AFP)
Da Redação
Publicado em 22 de março de 2013 às 12h32.
Nicosia - O Chipre enfrenta dilemas e deverá aceitar decisões dolorosas para evitar sua quebra, indicou nesta sexta-feira o governo, depois que a chanceler alemã, Angela Merkel, advertiu que a paciência dos europeus com a ilha tem limite.
O porta-voz do governo, Christos Stylianidis, indicou que as autoridades da ilha estavam envolvidas em duras negociações com a troica de seus credores internacionais, formada por União Europeia (UE), Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI).
O governo busca desesperadamente elaborar um "Plano B" para submetê-lo imediatamente ao Parlamento, que na terça-feira rejeitou de forma contundente um primeiro plano que previa uma forte taxação sobre todos os depósitos bancários.
"O Parlamento está convocado a tomar em breve grandes decisões. Sem espaço para dúvidas, haverá aspectos dolorosos em qualquer decisão que for tomada, mas o país precisa ser salvo", advertiu o porta-voz.
"As próximas horas determinarão o futuro deste país. Todos devemos assumir nossa responsabilidade", acrescentou.
Os europeus esperam que ainda nesta sexta-feira o Parlamento cipriota aprove uma lei de reestruturação bancária (que inclui uma liquidação de bancos) e outra para restringir o movimento de capitais, a fim de evitar movimentos de pânico quando os bancos, fechados desde 16 de março, voltarem a abrir suas portas, a princípio na próxima terça-feira.
Esta pequena ilha de menos de um milhão de habitantes se converteu no calcanhar de Aquiles da Eurozona, a ponto de as fontes europeias terem ameaçado deixar que saia do bloco para evitar um contágio a outros países, como Grécia, Espanha ou Itália.
O mal-estar com a ilha já se expressa abertamente.
Merkel advertiu que o Chipre não deve "abusar da paciência dos sócios da Eurozona", afirmaram participantes em uma reunião da chefe de governo da principal potência econômica do bloco com deputados de sua aliança parlamentar.
Merkel se queixou, em particular, do fato de as autoridades de Nicósia "não terem se comunicado com a troica durante vários dias", indicou um dos legisladores.
O "Plano B" deve resolver uma complexa equação: de onde tirar 7 bilhões de euros para obter em contrapartida os 10 bilhões prometidos pela troica para salvar os bancos da ilha. O programa rejeitado pelo Parlamento previa angariar 5,8 bilhões mediante os depósitos bancários, qualquer que seja seu montante, uma medida que gerou indignação entre a população.
A questão urge: o BCE decidiu que na segunda-feira cortará a provisão de liquidez de emergência aos bancos cipriotas, a menos que até a data tiver sido aprovado um programa "que garanta a solvência" destas instituições.
Dois bancos cipriotas, o Popular Bank e o Cyprus Bank, estão ameaçados de quebra imediata sem estes fundos.
Uma das hipóteses que circulam para angariar a soma exigida pela troica consistiria na instauração de um fundo de solidariedade formado com os fundos de pensões dos funcionários públicos e garantido com as receitas que a exploração dos importantes recursos gasíferos detectados recentemente devem fornecer.
Mas a Alemanha rejeita esta opinião, que levaria a um aumento da dívida pública cipriota.
O ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, confessou estar preocupado com a situação, mas disse que "as regras definidas para enfrentar a crise destes dois últimos anos devem ser respeitadas".
Referia-se, deste modo, aos resgates acordados a Portugal, Irlanda e Grécia, assim como ao setor bancário espanhol, condicionados a fortes medidas de redução do gasto público.
O Popular Bank e o Cyprus Bank pediram nesta sexta-feira que o Parlamento, "na falta de uma alternativa imediata", aceite impor uma taxa sobre os depósitos superiores a 100.000 euros.
Esta medida afetaria muitos depositantes russos, o que provocou alertas em Moscou, que se negou, apesar de tudo, a estender a mão à ilha mediterrânea se ela não alcançar um acordo com a UE.
"Estamos dispostos a discutir diferentes modos de apoio depois que a UE e o Chipre tiverem elaborado um esquema definitivo", disse o primeiro-ministro russo, Dimitri Medvedev, em uma coletiva de imprensa conjunta com o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso.