Economia

Chineses querem mais energia renovável (custe o que custar)

Pesquisa mostra que consumidores chineses estão dispostos a pagar mais para reduzir dependência do poluente carvão


	Transição: 97% dos entrevistados acreditam que o uso de energias limpas reduziria a poluição atmosférica.
 (VCG/VCG via Getty Images)

Transição: 97% dos entrevistados acreditam que o uso de energias limpas reduziria a poluição atmosférica. (VCG/VCG via Getty Images)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 31 de agosto de 2016 às 15h46.

São Paulo - A China é um país de contrastes. Ao mesmo tempo em que possui a maior capacidade instalada de energia eólica e solar do que qualquer outro país no mundo, a maior parte de seu consumo ainda vem da energia suja e poluente da queima do carvão. Mas se depender da vontade dos chineses, isso pode mudar.

Uma nova pesquisa indica que eles querem mais energia renovável, custe o que custar: mais de 90% dos chineses estão dispostos a pagar mais por energias limpas para abastecer suas casas, aponta estudo encomendado pela Chinese Renewable Energy Industries Association e conduzido pela Ipsos.

A maioria dos entrevistados expressaram preocupação com a poluição ambiental, especialmente a poluição do ar. Perguntados sobre as principais fontes da má qualidade do ar, os entrevistados listaram os gases residuais de fábricas, transporte e geração de energia térmica.

Quase 97% dos entrevistados acreditam que o uso de energias limpas reduziria a poluição atmosférica. Indo além,  97,6% estão dispostos a comprar energias renováveis. Desses, 90,6% aceitariam aumentos de até 10% na fatura média mensal de energia elétrica de uma família chinesa (US$ 1,50 por mês). Uma grande proporção, 87,9%, quer que suas contas de energia incluam informações sobre a fonte da energia consumida.

O Ipsos entrevistou 3.000 pessoas de 10 cidades, incluindo Beijing, Shanghai, Guangzhou, Shenyang, Chengdu, e Lanzhou entre julho e agosto.

Peng Peng, diretor de pesquisa política na China Renewable Energy Industries Association, disse que a pesquisa revelou níveis "sem precedentes" de apoio à energia limpa.

Estudos semelhantes realizados nos Estados Unidos e no Reino Unido nos últimos dois anos descobriram que 50 por cento e 48 por cento dos inquiridos nos EUA e Reino Unido estariam dispostos a pagar um preço mais elevado para as energias renováveis, respectivamente, segundo o especialista.

"Os consumidores chineses mostram uma vontade maior de comprar de energia renovável, e estão prontos para pagar taxas consideravelmente mais elevadas por ela. No entanto, não existem atualmente opções para os consumidores na China selecionarem a sua fonte de energia", observa Peng.

LI Junfeng, diretor do Centro Nacional de Estratégia de Mudanças Climáticas e Cooperação Internacional, destaca que os consumidores têm o direito de pedir um fornecimento de energia melhor e mais limpo. 

"Dada a disposição do público de comprar energias limpas, as empresas de energia deveriam indicar a fonte de fornecimento de energia do consumidor em suas contas. Enquanto isso, a China deveria permitir que famílias e empresas comprem energia verde, estabelecendo um mecanismo de certificação, ou permitir que os usuários comprem energia verde diretamente das empresas de energia para atender sua demanda por energia e para uma melhor qualidade ambiental", diz em comunicado.

Um custo alto para a saúde

De acordo com estatísticas do Conselho de Eletricidade da China, a energia térmica (principalmente carvão) foi responsável por quase 74% da geração total de energia da China em 2015. Essa dependência cobra um preço alto: os combustíveis fósseis são a maior fonte de impacto da geração de energia sobre a saúde relacionada à poluição do ar, contribuindo para 366.000 mortes prematuras na China, segundo os dados mais recentes, relativos a 2013.

Razões não faltam para se acelerar a transição energética no país. Porém, o campo onde o jogo da energia acontece é cheio de desníveis por lá. Novos projetos de energia renováveis lutam para conseguir sua quota de subsídios minúsculos fornecidos pelo governo, enquanto os impactos do carvão sobre o meio ambiente e a saúde pública não são computados no seu preço.

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