Michel Temer: de janeiro a julho, as exportações brasileiras ao país asiático cresceram 33% (Isac Nóbrega/PR/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 31 de agosto de 2017 às 18h05.
Pequim - Futebol, aviões, cinema, vistos, Belo Monte, comércio eletrônico e investimentos em infraestrutura formam o pot-pourri de anúncios que serão feitos nesta sexta-feira, 1.º, em Pequim, pelos presidentes do Brasil, Michel Temer, e da China, Xi Jinping.
Alguns são novidade e outros, repaginação de decisões divulgadas nos últimos meses. Mas a segunda visita de Temer ao país no espaço de um ano evidencia o papel crucial da nação da Ásia na economia brasileira.
Como todas as passagens de ocupantes do governo do Brasil pela China, esta deverá contemplar a venda de aviões da Embraer.
A expectativa do lado brasileiro é o anúncio de contrato de 20 unidades com a Fuzhou Airlines, cujo valor de tabela se aproxima de US$ 1,5 bilhão.
Também repetindo o padrão de outras viagens, deverá haver o anúncio de que a China dará autorização para a Embraer finalizar vendas divulgadas em outras visitas presidenciais, mas não concretizadas.
O presidente brasileiro será recebido por Xi numa visita de Estado, a mais elevada e elaborada na lista das interações diplomáticas entre líderes de diferentes países.
Além do presidente da China, Temer também se reunirá com o primeiro-ministro Li Keqiang.
Todos os eventos ocorrerão no Grande Palácio do Povo, na Praça da Paz Celestial, sede dos congressos do Partido Comunista da China (PCC) que definem a composição da liderança do país a cada cinco anos. O próximo ocorrerá em outubro.
Os primeiros compromissos do brasileiro depois da chegada à capital chinesa, nesta quinta-feira, 31, foram reuniões sucessivas com representantes de quatro grandes empresas chinesas com negócios no Brasil: State Grid, Huawei, Three Gorges Corporation e HNA.
De acordo com Temer, as companhias reclamaram da lentidão burocrática, mas manifestaram a intenção de ampliar os investimentos no País.
Compradora da fatia da Odebrecht no Aeroporto Internacional Tom Jobim (RioGaleão), a HNA afirmou que pretende transformar o local num hub de ligação entre a América Latina e a Ásia, segundo relato de uma fonte que acompanhou o encontro.
Neste sábado, 2, o presidente brasileiro voltará a falar ao setor privado, num seminário empresarial que reunirá 300 participantes e no qual serão anunciados acordos entre empresas dos dois países.
A administração brasileira se valerá da reunião de Temer com Xi para destacar a concessão de licença ambiental que permitirá o início das obras da linha de transmissão que a chinesa State Grid construirá entre a Usina Belo Monte, no Pará, e a Região Sudeste.
Com 2.518 quilômetros de extensão, será a maior do País. A empresa havia obtido a licença prévia em fevereiro, que permitia a realização de estudos de viabilidade, mas não o início da construção.
A nova licença foi concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no dia 18 e divulgada num curto comunicado.
Com capital de sobra, as empresas chinesas têm demonstrado interesse crescente por projetos de infraestrutura no Brasil, principalmente nas áreas de energia, transportes e telecomunicações.
Conforme assessores do chefe do Executivo brasileiro, ele pretende realçar que o Brasil é um "porto seguro" para investimentos de longo prazo, depois da reformulação de agências e marcos regulatórios, entre os quais o de petróleo e gás.
Também, na análise do Poder Executivo brasileiro, abordará as reformas que reduziram custos e melhoraram o ambiente de negócios no País, como a trabalhista.
O Brasil deverá ainda se apresentar como um fornecedor seguro de produtos que alimentam o crescimento chinês e a população de 1,4 bilhão de habitantes.
De janeiro a julho, as exportações brasileiras ao país asiático cresceram 33%, para US$ 30,8 bilhões.
Num sinal da debilidade da economia nacional, as importações tiveram expansão bem inferior, de 12%, e somaram US$ 14,5 bilhões.
O resultado gerou um saldo favorável ao Brasil de US$ 16,3 bilhões. Apesar de sucessivos governos defenderem a necessidade de diversificação da pauta de exportações à China, pois continua concentrada em poucas commodities: soja, minério de ferro e petróleo representam 80% dos embarques.