Rio de Janeiro - A China está interessada em montar fábricas no Brasil para produzir localmente os equipamentos que utilizará nos projetos de infraestrutura que está investindo no país, afirmou nesta quarta-feira no Rio de Janeiro o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang.
"Além de exportar (para o Brasil), gostaríamos de instalar fábricas e bases para produzir e gerar empregos no país", afirmou o primeiro-ministro chinês, que encerrou hoje no Rio de Janeiro uma visita oficial de dois dias ao Brasil, em um breve discurso que pronunciou na cerimônia de inauguração de uma feira de produtos chineses.
Keqiang esclareceu que as unidades serviriam para produzir os equipamentos que serão necessários para as empresas chinesas que já atuam nas áreas de infraestrutura no Brasil e citou o caso específico de uma fábrica de vagões e locomotivas para abastecer as ferrovias e metrôs brasileiros que contam com investimento chinês.
O anúncio foi feito um dia após Brasil e China assinarem em Brasília 35 acordos de investimentos, negócios e cooperação que podem chegar a US$ 53 bilhões e de anunciarem o início de estudos de viabilidade para construir uma ferrovia transoceânica na América do Sul, entre os portos do Brasil no Atlântico e os do Peru no Pacífico.
Os acordos foram assinados após o encontro que Keqiang teve na terça-feira com a presidente Dilma Rousseff, no primeiro dia de sua viagem pela América do Sul, que também o levará para Colômbia, Peru e Chile.
"Já há um consenso dos governos dos dois países e das empresas de que precisamos instalar fábricas aqui para produzir e gerar emprego localmente", afirmou o primeiro- ministro após a visita que fez ao centro de operações do metrô do Rio de Janeiro.
O governo estadual do Rio de Janeiro adquiriu 34 trens da empresa chinesa CNR, dos quais nove já foram entregues e três estão em operação.
"O governador comentou sobre a satisfação dos passageiros com os trens do metrô que oferecemos e com sua alta qualidade", contou o premiê chinês sobre a conversa que teve com o governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, sobre a possibilidade de montar uma fábrica de trens na capital.
"Discutimos com o governo chinês a construção de um centro de manutenção (de trens) no Rio de Janeiro e de uma fábrica de trens para atender a demanda do Brasil e de toda américa do sul", disse o secretário regional de Transportes, Carlos Roberto Osorio.
O primeiro-ministro chinês destacou que o Brasil precisa atualmente de uma grande quantidade de equipamentos de infraestrutura e que as possibilidades de produzir localmente não se limitam exclusivamente a uma fábrica de trens e a um centro para sua manutenção.
Keqiang, junto com Pezão e do ministro brasileiro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, também visitou no Rio de Janeiro um dos sete navios chineses encomendados pelo governo estadual para o transporte marítimo de passageiros.
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, que também acompanhou a visita, destacou as grandes oportunidades de investimento em fábricas de equipamentos destinados aos setores ferroviário, energético e automotivo.
Segundo o primeiro-ministro chinês, "qualquer projeto bilateral tem grandes possibilidades de sucesso por se tratarem de dois gigantes".
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1. Parceria
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1/8 (Roberto Stuckert Filho/PR)
São Paulo - A presidente
Dilma Rousseff e o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, assinaram nesta terça-feira em Brasília
35 acordos no valor de US$ 53 bilhões. Foram contemplados temas que vão do esporte à carne, passando por energia e
infraestrutura. Grandes empresas como
Petrobras, Vale e Embraer estão envolvidas diretamente. Resta ver até que ponto os investimentos vão sair do papel; o histórico nesse sentido é dúbio. A visita de Keqiang, que incluiu uma comitiva com 150 empresários, acontece
quase um ano após a do presidente Xi Jinping. A
China é nosso principal parceiro comercial, com troca total de US$ 77,9 bilhões em 2014. O Brasil teve superávit de US$ 3,3 bilhões, mas costuma
pedir por mais diversificação e valor agregado na pauta, focada em produtos agrícolas e minério de ferro. Depois de décadas acumulando reservas, os chineses entraram em um plano de internacionalização agressivo. Pela primeira vez, o país deve ser
mais fonte do que destino de investimento, além de ter se tornado
um tipo de proto-FMI que socorre países em dificuldade. Do lado de dentro, o país
está mudando de perfil - menos focado em investimento
e mais em consumo, uma forma de rebalancear uma economia
em franca desaceleração. Veja a seguir 7 dos principais acordos firmados hoje entre
Brasil e China:
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2. Fundo de infraestrutura
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2/8 (Dado Galdieri/Bloomberg)
China e Brasil anunciaram um fundo de US$ 50 bilhões para financiamento de projetos de infraestrutura, assinado entre a Caixa Econômica Federal e o Banco Industrial e Comercial da China. É uma aposta do governo brasileiro para diversificar as fontes de recursos e estimular a atividade econômica em um contexto de piora da liquidez global e crise interna, incluindo aí os efeitos da
Operação Lava Jato. A falta de financiamento é um dos gargalos que impedem a melhora da infraestrutura brasileira e o aumento da taxa de investimento, historicamente baixa na comparação com países desenvolvidos e emergentes. Em meados do ano passado, os
BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) anunciaram um banco próprio de fomento com o mesmo objetivo e capital inicial também de US$ 50 bilhões.
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3. Ferrovia Transoceânica
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3/8 (Bloomberg)
O projeto mais ambicioso (e incerto) do pacote é a
criação de uma ferrovia que cruze o continente, atravesse o Peru e permita um canal de escoamento das
exportações brasileiras para a China pelo Oceano Pacífico. Ela começaria no Rio de Janeiro e atravessaria 6 estados, cruzando a Amazônia e a Cordilheira dos Andes; analistas estimam o custo em pelo menos US$ 10 bilhões. O programa de concessões de 2012 já incluía alguns trechos, que não foram licitados.
De acordo com a Folha, as negociações estão avançadas no pedaço entre Goiás e Lucas do Rio Verde (MT), principal trajeto para a produção nacional de grãos. “É um novo caminho que se abrirá para a Ásia, reduzindo distâncias e custos", disse a presidente Dilma Rousseff. Por enquanto, o que foi assinado é um memorando de entendimento para que sejam feitos estudos de viabilidade.
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4. Exportação de carne bovina
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4/8 (Paulo Whitaker/Reuters/Reuters)
Durante a visita do presidente chinês Xi Jinping em julho do ano passado, foi anunciado o fim do embargo chinês à carne brasileira, vigente desde 2012 por causa de um caso não confirmado de mal da vaca louca. Agora,
foi assinado o protocolo sanitário habilitando os primeiros 8 frigoríficos brasileiros, e mais 9 já estão na lista: “É o marco jurídico necessário para a retomada da exportação de carne bovina para a China, de forma sustentável, que será implementada com a habilitação feita pela China dos primeiros oito estabelecimentos brasileiros (...) vamos liberar [os próximos] de forma bem acelerada.”, disse Dilma. O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo, mas o volume fechou o primeiro trimestre de 2015 com queda de 17,6% em relação ao mesmo período do ano passado,
segundo a ABIEC. Os frigoríficos dispararam na Bolsa com a notícia e cálculos antigos estimam que as exportações do produto podem ser
30 vezes maiores com a liberação.
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5. Financiamento da Petrobras
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5/8 (Germano Lüders/EXAME)
Os acordos com a China também incluem US$ 7 bilhões em financiamentos para a Petrobras: US$ 5 bilhões pelo Banco de Desenvolvimento da China (CDB) e US$ 2 bilhões para financiamento de projetos com o Banco de Exportações-Importações da China (China Exim), além de um "acordo de cooperação para a criação de relacionamento de longo prazo". No começo de abril, o CDB
já havia emprestado US$ 3,5 bilhões para a empresa com termos não divulgados. A China tem um histórico longo de ajuda a países e companhias em dificuldades financeiras, incluindo Argentina, Venezuela e Rússia. De acordo com a presidente Dilma, os empréstimos refletem confiança na empresa e colaboram para o fortalecimento do pré-sal. Duas empresas chinesas, a CNPC e a CNOOC, já estão ao lado da Petrobras no campo de Libra, com 10% de participação cada uma.
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6. Navios da Vale
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6/8 (Paulo Whitaker/Files/Reuters)
A China absorve metade do minério de ferro exportado pela
Vale, e a meta da empresa é
duplicar esse volume de vendas no período de 4 a 5 anos. É neste contexto que a empresa acaba de
fechar um acordo para vender 4 navios gigantes (VLOCs), conhecidos como Valemax, para a China Merchants Energy Shipping (CMES). O entendimento começou em setembro e deve ser concluído nos próximos meses. A Vale também informou que concluiu a venda de quatro VLOCs para a China Ocean Shipping Company (Cosco), o maior armador e transportador de granéis sólidos da China, uma transação de US$ 445 milhões. No início do ano, os navios Valemax passaram a ser autorizados a se atracar na China após um período de resistência das duas companhias chinesas.
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7. Aviões da Embraer
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7/8 (Reprodução/Youtube)
Um dos acordos assinados hoje é para que a
Embraer exporte 40 aviões E-195 para a Hainan Airlines, maior companhia privada aérea chinesa. O valor do négocio é de até US$ 1,3 bilhão e será financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (
BNDES) e pelo Banco de Exportações-Importações da China (China Exim). A primeira etapa, com venda de 22 aviões, já estava prevista em uma lista firmado em julho do ano passado entre os dois bancos durante a visita do presidente Xi Jinping. "Trata-se do primeiro acordo de financiamento do BNDES para exportações de aeronaves brasileiras com a China e envolverá, na etapa inicial, até dez aeronaves entre 2016 e 2017", disse o banco brasileiro em nota.
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8. Compra do banco BBM
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8/8 (.)
O Banco de Comunicações da China (BoCom), estatal e o 5º maior do país, escolheu o Brasil para fazer sua primeira aquisição no exterior. O BoCom
comprou o controle de 80% do capital do banco brasileiro BBM, que tem sede no Rio de Janeiro e foco em crédito e finanças privadas. Seus ativos são de R$ 3 bilhões, mas o valor da transação não foi revelado e é estimado em R$ 525 milhões. A compra ainda precisa passar pelo crivo das instituições regulatórias de ambos os países. "As crescentes e sólidas relações econômicas entre Brasil e China seguirão gerando oportunidades para a construção de instituições financeiras cada vez mais fortes e dinâmicas, capazes de oferecer crédito e serviços a clientes brasileiros e estrangeiros em todo o país", afirmaram as instituições em comunicado conjunto.