Nos últimos dias, EUA anunciaram novas tarifas e a China (Artyom Ivanov/Getty Images)
AFP
Publicado em 15 de maio de 2019 às 14h23.
Última atualização em 15 de maio de 2019 às 14h51.
A China respondeu na segunda-feira (13) com uma nova série de tarifas sobre produtos importados dos Estados Unidos, em represália às medidas semelhantes adotadas pelo presidente americano Donald Trump.
A China importa quase quatro vezes menos produtos americanos que o contrário, por isso é difícil responder "olho por olho, dente por dente" às tarifas de Trump.
A partir de junho, Pequim vai aumentar as tarifas a 10%, 20% e 25%. Somada a anúncios anteriores, essa alta das tarifas cobre quase 110 bilhões de dólares de um total de 120 bilhões importados dos EUA.
Caso a guerra comercial entre ambos países se intensifique, Pequim conta com várias alternativas ao aumento das tarifas.
O iPhone X, os carros Buick, as cafeterias Starbucks e os filmes de Hollywood são alguns dos produtos americanos mais vendidos na China. Além disso, a marca Tesla planeja instalar lá fábricas de automóveis elétricos.
"A China pode se vingar com as empresas americanas ativas em seu território (...). Pode impor exigências regulamentares, atrasar o tráfego nas aduanas" ou impor controles sanitários e tributários mais severos, afirmou em nota Barry Naughton, da Universidade da Califórnia.
Mas este plano de ação pode ter impacto negativo na imagem "reformista" e aberta que Pequim tenta projetar.
Desde maio, as inspeções aduaneiras de carne bovina e automóveis americanas ficaram mais minuciosas.
Recentemente, Pequim recusou a fusão da fabricante americana de microprocessadores Qualcomm com sua rival holandesa NXP, interrompendo esta megatransação comercial de alcance global.
A possível conclusão da fusão está nas mãos das autoridades reguladoras chinesas.
A China pode boicotar as empresas americanas - o que seria mortal para grupos como General Motors, que vende mais automóveis na China que na América do Norte.
Os meios de comunicação estatais se mantiveram à margem da disputa, por ora, mas as incitações a boicotes já circulam nas redes sociais.
"Se 1,3 bilhão de chineses se desencantarem com os Estados Unidos, isso será algo muito difícil de reparar", alertou Wu Baiyi, pesquisador da Academia de Ciências Sociais.
"As campanhas de publicidade (contra outros países) foram executadas com eficácia e rapidez no passado", apontou Mark Williams, da Capital Economics.
As campanhas contra o Japão, em 2012, e a Coreia do Sul, no ano passado, "provocaram um colapso de 50% nas vendas das marcas automobilísticas de ambos países em um mês".
Pequim também poderia limitar o número de estudantes e turistas chineses que vão anualmente aos Estados Unidos.
No ano passado, com 350 mil estudantes, os chineses representaram um terço dos universitários estrangeiros nos EUA.
A quantidade total de gastos chineses em turismo e edução nos EUA é próxima da das importações da China de soja ou aeronaves americanas.
A China é crucial para a fabricante de aviões Boeing, que vende um quarto de seus produtos neste país, onde a grande maioria das companhias aéreas são controladas pelo governo.
Pequim "poderia ajustar seu volume de compra dessas aeronaves", alertou em janeiro o jornal estatal Global Times.
A China é o credor da dívida americana, com cerca de 1,2 trilhão de dólares.
Contudo, vender grande parte desses ativos pode representar um risco, já que qualquer desestabilização dos mercados também poderia desvalorizar os títulos que Pequim possui.
Donald Trump acusa o Banco Central Chinês de reduzir a força de sua moeda, o yuan, para apoiar as empresas exportadoras. A opinião geral é que Pequim não orquestrou a queda do yuan frente o dólar, mas isso foi resultado das tensões comerciais.
Desvalorizar o yuan por mais tempo poderia provocar fugas de capital significativas, algo que as autoridades chinesas querem impedir a qualquer custo.