EUA e China: atualmente a China depende de 80% dos "microchips" do exterior (Hyungwon Kang/Reuters)
AFP
Publicado em 2 de maio de 2018 às 15h41.
Os primeiros sinais do conflito comercial entre China e Estados Unidos afetaram setores tradicionais, como o aço e a agricultura, mas Pequim agora se prepara para entrar na batalha do segmento de alta tecnologia - para o qual tem grandes ambições.
Essa nova etapa das diversas disputas entre os dois gigantes econômicos tem início com a chegada a Pequim, nesta quarta-feira (2), de uma delegação americana, dirigida pelo secretário do Tesouro Steve Mnuchin.
O presidente Donald Trump, que denuncia as práticas comerciais "desleais" de Pequim, encarregou Mnuchin de negociar com o gigante asiático e alcançar um compromisso.
Mas a batalha promete ser especialmente dura no setor das altas tecnologias, onde imperam as gigantes americanas Google e Facebook e as chinesas Alibaba e Tencent.
A principal questão, contudo, são os semicondutores, ou "chips", dos computadores, que funcionam como cérebros dos aparelhos eletrônicos e lhes permitem criar programas e armazenar memória.
A maioria deles é fabricada por gigantes americanos como Intel, Qualcomm e Micron, que têm décadas de experiência no desenvolvimento de seus circuitos integrados e operam em países aliados, como Coreia do Sul e Taiwan.
Os "chips" estão entre os bens que mais preocupam a China, rivalizando com o petróleo, o que revela a dependência de Pequim da tecnologia americana.
No mês passado, as autoridades dos Estados Unidos decidiram interromper as exportações de componentes americanos ao grupo chinês ZTE, devido a violações de um embargo sobre o Irã e a Coreia do Norte.
Washington já tinha tomado uma medida similar contra outra gigante chinesa de telecomunicações, a Huawei.
As duas empresas dependem dos "chips" americanos para criar seus produtos. Isso reforça a necessidade da China de ser capaz de se abastecer em todos os níveis da cadeia de produção da alta tecnologia, como disse na semana passada o presidente Xi Jinping.
"No passado, não tivemos outra opção que não depender de nossos próprios esforços. Então, conseguimos inclusive criar duas bombas atômicas e lançar satélites, tudo isso na base de grandes esforços", disse Xi.
A China é capaz, acrescentou ele, de "somar forças para conquistar grandes coisas".
Essa determinação é justamente o que preocupa os Estados Unidos, bem como a União Europeia.
Os Estados Unidos querem reforçar a proteção aos direitos de propriedade intelectual e impedir as joint-ventures "forçadas". Segundo os americanos, o objetivo delas seria transferir conhecimentos e tecnologia dos EUA.
O chamado Plano 2025 da China é justamente o "aspecto mais espinhoso" no que se refere à propriedade intelectual, segundo o representante comercial americano (USTR), Robert Lighthizer.
"Esta política tem como ambição criar campeões nacionais no mundo todo" e em "todos os setores", inclusive o de alta tecnologia, garante Lighthizer.
Atualmente, a China tem cerca de 80% de dependência do exterior para conseguir "microchips", uma situação que o país almeja transformar no futuro.
Para conseguir isso, os governos central e locais investiram, desde 2014, cerca de 100 bilhões de dólares no desenvolvimento de sua indústria de semicondutores, de acordo com uma fonte americana.
Ao mesmo tempo, Washington bloqueou diversas tentativas de empresas chinesas de comprar companhias americanas de semicondutores.
Mas, apesar dos esforços e dos investimentos, a China ainda está atrasada na corrida do setor de semicondutores, de acordo com analistas.
"Ainda falta muitos e muitos anos para que este tipo de investimentos gere avanços", afirma Cao Cong, especialista em China da Universidade de Nottingham, em Ningbo.