Economia

China não quer produzir só ‘made in China’, diz Sérgio Amaral

Para o presidente do Conselho empresarial Brasil-China, país precisa definir se vai competir com a China nas manufaturas ou nos produtos de maior tecnologia – ou nos dois

Líderes dos BRICs: o grupo não luta contra as instituições, o que os países querem é ter um papel maior dentro delas, segundo Amaral (AFP)

Líderes dos BRICs: o grupo não luta contra as instituições, o que os países querem é ter um papel maior dentro delas, segundo Amaral (AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 28 de junho de 2012 às 17h16.

São Paulo - A China não quer mais um processo produtivo que tem só o ‘made in china’, segundo Sérgio Amaral, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e presidente do conselho empresarial Brasil-China. O diplomata afirma que o país quer, cada vez mais, acentuar a inovação e o avanço tecnológico ao invés de apenas focar na cópia de produtos estrangeiros. 

Esse cenário apresentaria um desafio para o Brasil, segundo Amaral. “A China vai associar uma alta competitividade na área de manufaturas e a mão de obra barata com uma alta competitividade em setores de maior agregação tecnológica. E o Brasil vai se ajustar ao desafio chinês tentando competir em qual área?”, questionou Amaral, para quem a resposta não fica clara no projeto de crescimento do país. 

“O Brasil não é uma economia planejada como a china e nessa parte estamos tendo dificuldade em ter uma visão estratégica”, afirmou o diplomata. Para o diplomata, o plano quinquenal da china é consistente e conduz à reconversão do modelo chinês para o mercado interno em um momento em que os principais mercados da China, Estados Unidos e União Europeia, estão quase estagnados – o que aponta para uma redução na demanda. Amaral acredita que o crescimento da China vai ficar dentro da margem prevista pelo governo para 2012, entre 7% e 8%.

Já no Brasil, a situação é outra, segundo o diplomata. “Nossa margem de manobra está estreitando, a economia está crescendo menos, os investimentos são poucos, a inflação pode aumentar e podemos ter um risco externo”, afirmou. Para Amaral, são necessárias mudanças em maior profundidade. “Mas isso não vai ser feito porque tem um risco politico que não acredito que o governo esteja disposto a correr”, disse. 

Futuro dos BRICs

“Os BRICs não são revolucionários”, disse Amaral. O grupo não luta contra as instituições, o que os países querem é ter um papel maior dentro delas. “Isso os une, o que os separa é a competição que existe entre eles”, afirmou o diplomata. Por isso, é difícil prever se o bloco vai se manter unido. Na medida em que um país despontar como novo polo econômico é possível que os BRICs se desfaçam, segundo o diplomata.

Amaral participou do Congresso Brasileiro de Pesquisa, organizado pela Abep, nessa semana.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaBricsChinaComércio exteriorExportações

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto