A resposta da China veio na sexta-feira, após a proposta da Comissão Europeia na quarta-feira de taxar, em média 47%, os painéis solares chineses importados (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 13 de maio de 2013 às 20h37.
A União Europeia (UE) estuda taxar os painéis solares chineses e Pequim responde com uma investigação sobre os tubos sem solda europeus, em iniciativas que não deram um respiro ao novo diretor da Organização Mundial de Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevêdo.
A resposta da China veio na sexta-feira, após a proposta da Comissão Europeia na quarta-feira de taxar, em média 47%, os painéis solares chineses importados, para proteger as empresas europeias do setor.
Pequim anunciou uma investigação antidumping sobre "alguns tubos sem solda utilizados em altas temperaturas e alta pressão, importados da União Europeia, do Japão e dos Estados Unidos", segundo o Ministério chinês de Comércio.
Em uma entrevista publicada nesta segunda-feira pelo jornal britânico Financial Times, o presidente da Arcelor Mittal, Lakshmi Mittal, se juntou ao debate ao pedir abertamente à UE para adotar medidas protecionistas aos produtos de aço, similares às dos painéis solares.
"Deveriam aumentar as tarifas de importação ou deveria haver uma sobretaxa sobre o aço importado pela Europa de países com padrões ambientais muito baixos", disse.
Na quinta-feira, a agência de imprensa oficial Nova China (Xinhua) alertou a União Europeia sobre a possibilidade de represálias após a iniciativa sobre os painéis solares.
"A ideia de que a China não vá reagir e aceite esses impostos de braços cruzados simplesmente não é realista", escreveu a Nova China.
Esses dois importantes atores do comércio mundial têm vários contenciosos e cada um enfrenta dificuldades econômicas, recessão na Europa e desaceleração econômica na China, acompanhada de um enfraquecimento da balança comercial.
As duas entidades se opõem ao que é feito pelo mercado chinês, a defesa dos direitos de propriedade intelectual ou os impostos na Europa à contaminação provocada pelas companhias aéreas.
Um exemplo dessas complexas relações é que a UE quer iniciar negociações de livre comércio com os Estados Unidos, Canadá e Japão, mas não tem pressa para fazer o mesmo com a China e prefere avançar em um projeto de tratado bilateral de investimentos.
O anúncio de Pequim na sexta-feira provocou uma queda da cotação da ação de um grupo francês de tubos sem soldas, Vallourec, mas este quis acalmar os ânimos e afirmou que menos de 1% de seu volume de negócios seria afetado.
Estas manobras protecionistas são o presente de boas-vindas ao novo diretor geral da OMC, o brasileiro Azevêdo, que tentará destravar as negociações de liberalização do comércio mundial que se encontram em ponto morto.
Azevêdo, escolhido na quarta-feira passada, será formalmente nomeado esta semana e assumirá o cargo no dia 1º de setembro.
A escolha de um representante dos países emergentes para dirigir esta instituição, marcada por grandes antagonismos, oferece alguma esperança.
"A OMC é capaz de se ajustar, de se transformar em função das grandes evoluções da economia mundial, entre os quais essa grande virada que vimos nos últimos anos e que a crise acelerou, entre os países avançados como a Europa ou os Estados Unidos e os países emergentes", disse na quarta-feira o atual diretor da OMC, o francês Pascal Lamy.
Contudo, isso não deve alterar a relação entre os dois blocos. "Seria ir um pouco longe demais porque, como seus predecessores, o diretor da OMC deve ser neutro", disse.
Segundo a Nova China, "ninguém deve ignorar que os esforços de Azevêdo para retomar as negociações comerciais e lutar contra as medidas protecionistas nocivas não poderão ter sucesso se as potências econômicas mundiais não se unirem e resolverem suas diferenças".