O primeiro-ministro chinês advertiu os Estados Unidos nesta sexta-feira que uma guerra comercial "não beneficia ninguém" (Jonathan Ernst/Reuters)
AFP
Publicado em 6 de julho de 2018 às 10h37.
Última atualização em 6 de julho de 2018 às 11h11.
Os Estados Unidos anunciaram, nesta sexta-feira (6), a imposição de tarifas de milhões de dólares a vários produtos chineses, provocando represália imediata de Pequim, que denunciou "a maior guerra comercial da história econômica".
À meia-noite de Washington (1h de sexta-feira, horário de Brasília), entraram em vigor as sobretaxas punitivas decididas pelo presidente americano Donald Trump, sobre um total de 34 bilhões de dólares de importações chinesas, que incluem automóveis, discos rígidos, ou componentes de aviões.
A China reagiu de imediato e disse que será "obrigada a tomar as contra medidas necessárias" para "defender os interesses fundamentais do país e de sua população", conforme nota divulgada pelo Ministério chinês do Comércio.
Pequim não deu detalhes de imediato sobre o volume e a natureza de suas medidas. Já a agência oficial de notícias Xinhua afirmou que foram impostas tarifas complementares sobre produtos americanos.
A China também acusou Washington de lançar "a maior guerra comercial da história econômica", com a imposição destas novas taxas, e denunciou que "os Estados Unidos violaram as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC)".
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, advertiu os Estados Unidos nesta sexta-feira que uma guerra comercial "não beneficia ninguém".
"Se um país quiser aumentar as tarifas, a China responderá para se defender. Uma guerra comercial não beneficia ninguém, porque prejudica o comércio livre e o processo multilateral", declarou Li em Sófia, onde participa de uma cúpula com 16 países da UE e dos Bálcãs.
O governo Trump impôs tarifas de 25% a 818 produtos chineses. Um segundo lote de tarifas, por um valor de 16 bilhões e alvo de análise pelo representante de Comércio (USTR, na sigla em inglês), Robert Lighthizer, entrará em vigor em breve, indicou Trump, que falou de um prazo de "duas semanas".
No total, serão 50 bilhões de dólares de importações chinesas anuais que se verão afetadas por essas medidas, destinadas a compensar o que Trump considera um "roubo" de propriedade intelectual e de tecnologia por parte da China.
Mas Washington pode ir além.
Donald Trump pediu a Lighthizer que "identifique 200 bilhões de dólares de bens chineses, visando a tarifas suplementares de 10%".
Essas medidas poderão elevar para 450 bilhões de dólares o valor dos produtos chineses taxados, ou seja, a grande maioria das importações que chegam aos Estados Unidos do gigante asiático (505,6 bilhões de dólares em 2017).
A entrada dessas tarifas em vigor marca o fracasso de meses de negociações entre as duas maiores economias do mundo e ocorre no momento em que importantes vozes da indústria alertam para suas consequências internas nos Estados Unidos.
Washington acusa a China de ter-se apropriado de patentes de tecnologia de ponta, seja pela obrigações às empresas americanas para operarem no mercado chinês, ou simplesmente mediante roubo.
No ano passado, o déficit comercial dos Estados Unidos com a China chegou a 372,2 bilhões de dólares.
Quando a entrada em vigor dessas novas tarifas americanas já estava em contagem regressiva, nesta quinta-feira, o Federal Reserve (o Banco Central americano) alertou que uma iminente guerra comercial é uma "nuvem negra em um céu azul" para a economia local.
Na visão do Fed, incertezas geradas pelas tarifas e políticas comerciais restritivas podem minar os investimentos e a confiança das empresas.
Nesse sentido, um pesquisa feita com as empresas confirmou, na quinta-feira, que elas não escondem mais sua preocupação diante da guerra comercial do presidente.
O início dessa guerra também confirmaria a distância entre Trump e seu partido, o Republicano, que tradicionalmente defende o livre-comércio.
A influente Câmara Americana de Comércio admitiu esta semana que represálias de China, Canadá, México e União Europeia, entre outros, já afetam 75 bilhões de dólares de exportação americana.