A arte da guerra: a China acredita que Trump terá de adotar discurso mais moderado se não quiser que os EUA paguem o preço (Thinkstock)
Luiza Calegari
Publicado em 28 de novembro de 2016 às 14h20.
Última atualização em 28 de novembro de 2016 às 19h30.
Um ditado chinês que vem da filosofia do antigo texto de Sun Tzu “A arte da guerra” afirma: Você pode matar 1.000 inimigos, mas pode também perder 800 soldados.
Séculos mais tarde, esse provérbio voltou a ser adequado e é mencionado frequentemente em discussões em Pequim.
Atualmente, ele salienta os possíveis danos que o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, poderia causar se cumprir sua promessa de iniciar uma guerra comercial contra a China, a segunda maior economia do mundo.
Como Trump voltou atrás em algumas outras promessas eleitorais, não está claro se ele acabará impondo impostos punitivos à China -- e Pequim sinalizou certo otimismo de que ele será mais pragmático quando assumir o cargo.
No entanto, a mensagem da China é que qualquer decisão de tributar as importações chinesas será retaliada: a economia dos EUA seria abalada e os EUA estragariam seus antigos vínculos com a Ásia.
“A China não gostaria de ver isso acontecer”, disse Fu Ying, que preside o Comitê de Relações Exteriores da legislatura e foi vice-ministra do Exterior até 2013, sobre os EUA imporem impostos punitivos.
“Mas, se isso de fato acontecer, não será uma via de mão única”, disse ela na semana passada em Pequim.
Embora a China tenha alertado os EUA a não começar uma briga, a perspectiva de maior protecionismo nos EUA cria uma oportunidade para o presidente Xi Jinping na Ásia, onde países que dependem do comércio estão nervosos com as possíveis consequências.
Xi correu para retratar seu país como um defensor do livre comércio, e as ações de Trump poderiam abrir-lhe o caminho para construir sua influência.
Xi falou sobre seu desejo de ter o mesmo status de grande potência conferido aos EUA, repelindo a hegemonia americana desde a Segunda Guerra Mundial.
Por enquanto, a China tem uma resposta dupla para a ascensão de Trump: adverti-lo das consequências de uma ação unilateral e intensificar os esforços para fechar um pacto comercial com toda a Ásia que não inclui os EUA.
Pequim quer firmar a Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP, na sigla em inglês) -- um acordo comercial entre 16 países com nações do sudeste asiático e países como Japão e Austrália -- “o mais rápido possível”, de acordo com o Ministério do Comércio.
É um modo de diferenciar intencionalmente a China de um EUA mais voltado a si mesmo. A próxima rodada de negociações está marcada para 2 de dezembro na Indonésia.
Em termos de resposta direta, a China -- o maior credor e parceiro comercial dos EUA -- poderia possivelmente elevar os impostos cobrados às importações americanas e recorrer a outros países, disse Fu. De fato, ela expressou as ameaças de Trump em parte como uma oportunidade.
“Há pessoas na China que ficariam felizes em aproveitar esse momento” se os EUA anunciarem impostos, disse ela. “Existem várias áreas em que algumas pessoas na China consideram que nossos interesses foram prejudicados no comércio, como a soja -- nós perdemos completamente a plantação de soja para as importações. Temos mais de uma década de safras boas, mas continuamos importando o trigo americano. Por que deveríamos fazer isso?”