Os EUA impôs tarifa de 25 por cento sobre grandes exportadores de aço como Canadá, México e União Europeia (Chris Ratcliffe/Bloomberg)
Reuters
Publicado em 7 de junho de 2018 às 16h00.
Pequim - Produtores de aço na China estão buscando novos destinos de exportação na África e América do Sul uma vez que os embarques para seus maiores clientes internacionais no sudeste da Ásia caem a taxas de dois dígitos, com novas ações comerciais tomadas pelos Estados Unidos ameaçando excluir alguns mercados totalmente.
A China, maior produtora, consumidora e exportadora de aço do mundo, está ficando com menos destinos para vendas externas. Na semana passada, Washington impôs tarifa de 25 por cento sobre grandes exportadores de aço para os Estados Unidos --Canadá, México e União Europeia--, o que disparou medidas retaliatórias.
As tarifas que os EUA passaram a cobrar de outros países em março foram destinadas principalmente a reduzir importações de aço da China, que siderúrgicas norte-americanas acreditam que estão sendo direcionadas ao país por meio de outras nações.
No mês passado, o Departamento de Comércio dos EUA criou pesadas tarifas de importação contra produtos siderúrgicos do Vietnã que afirma se originarem na China. A medida atingiu o segundo maior destino de exportação da China depois da Coreia do Sul.
"Está cada vez mais aparente que as oportunidades de exportação para a China estão se tornando limitadas", disse Chris Jackson, analista da consultoria britânica MEPS International.
Apesar das exportações chinesas de aço terem atingido pico em oito meses em abril, os embarques acumulados dos primeiros quatro meses do ano caíram 20 por cento, recuando 2,5 por cento em valor.
As exportações da China para os principais mercados, incluindo Vietnã e Coreia do Sul, caíram dois dígitos desde o ano passado, refletindo um ambiente competitivo mais duro gerado por rivais como a Rússia.
Tarifas antidumping criadas por compradores do sudeste asiático como Tailândia, Vietnã, Indonésia e Malásia sobre exportações de aço da China também pressionaram as vendas externas da liga produzida no país.
"O mercado do sudeste asiático está ficando lotado. Mais e mais pessoas estão buscando novos mercados, especialmente em países sul-americanos e da África", disse Steven Yue, diretor comercial na Hebei Huayang Pipeline, uma exportadora de tubos de aço na China.
"Planejamos trabalhar mais duro para desenvolvermos mercados sul-americanos e africanos a partir do segundo semestre deste ano", acrescentou.
A América do Sul e a África foram responsáveis por 8 por cento das exportações chinesas de aço no ano passado e os embarques para alguns países destes continentes dispararam este ano.
Exportações para a Nigéria, maior economia da África e maior compradora de aço da China, subiram 15 por cento no primeiro trimestre, e os embarques para a Argélia, quarta maior economia do continente, quase triplicaram.
Na América do Sul, as exportações de aço da China para o Brasil subiram 40 por cento e cresceram quase 10 vezes para a Bolívia, segundo dados da empresa de acompanhamento MEPS.
Em relação à Ásia, há menos países na América do Sul e na África com tarifas antidumping e medidas de salvaguarda contra produtos siderúrgicos chineses, incluindo Brasil, Colômbia, Chile e África do Sul, segundo dados da Organização Mundial de Comércio.
Em janeiro, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) do Brasil decidiu não aplicar imediatamente medidas antidumping, como sobretaxas contra a importação de aços laminados a quente de quatro grandes grupos siderúrgicos da China e um da Rússia.
Em maio, a Camex também decidiu não aplicar de imediato medidas compensatórias sobre importações de aços planos da China.
As exportações de aço da China caíram de um recorde de 112,4 milhões de toneladas em 2015 para 75,4 milhões de toneladas no ano passado, em parte apoiadas em medidas do país para aumento da demanda interna.
Apesar disso, a Associação de Ferro e Aço da China (Cisa) afirma que o impacto da disputa comercial entre EUA e China sobre as exportações siderúrgicas chinesas "não deve ser subestimado".
"Se as exportações caírem de novo este ano, então os produtos siderúrgicos vão fluir para o mercado doméstico e isso vai piorar a situação em nosso próprio mercado", disse a Cisa no mês passado.
As exportações diretas de aço da China para os EUA somam menos de 1 por cento do total, mas Washington está tornando o aço chinês mais custoso nos EUA por meio das tarifas impostas contra o Vietnã. Para evitar isso, a maior parte das companhias siderúrgicas vietnamitas, que compram principalmente laminados a quente (HRC) da China, vão parar de importar o produto chinês, disse o vice-presidente da Associação de Aço do Vietnã, Chu Duc Khai.
O Vietnã exportou 4,7 milhões de toneladas de aço no ano passado e quase 60 por cento desse volume foi para o sudeste asiático e 11 por cento para os EUA.
A crescente capacidade de produção de aço no sudeste da Ásia, incluindo Vietnã, Indonésia e Malásia, vai acabar reduzindo a demanda por importações, disse o analista Alex Zhirui Ji, da CRU.
"Muitos amigos meus passaram a fazer negócios com países africanos uma vez que têm maior potencial e demanda maior", disse um operador e exportador de aço baseado em Tangshan, maior cidade produtora de aço da China.
"Eu sinto que os negócios na Ásia estão ficando mais difíceis, então eu também estou buscando por novos mercados. Provavelmente vou me juntar aos meus amigos que estão indo para a África."