Protestos: revolta social trouxe “um grande aumento da incerteza" ao país (Marcelo Hernandez/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 20 de novembro de 2019 às 08h00.
Última atualização em 20 de novembro de 2019 às 09h00.
Há apenas algumas semanas, a economia do Chile crescia a uma taxa acima de 3%. Quase ninguém estava preocupado com uma possível recessão.
E Luz Díaz provavelmente não esperava que tivesse que se trancar em sua loja de comida vegana na capital, enquanto a polícia enfrentava manifestantes do lado de fora.
A agitação social mais ampla e violenta de uma geração mudou tudo no prazo de um mês. Analistas agora projetam que a economia de US$ 300 bilhões encolha neste trimestre e ainda tentam descobrir se a retração se estenderá para 2020, o que caracterizaria uma recessão.
A revolta social trouxe “um grande aumento da incerteza”, disse Gonzalo Sanhueza, economista da empresa de serviços financeiros Econsult, em Santiago. “Quando isso acontece, os investimentos e a demanda dos consumidores congelam. E isso leva a uma desaceleração.”
Em todo o Chile, as vendas no varejo caíram e pequenas empresas - que respondem por cerca de 50% do emprego - fecharam as portas. Hotéis estão se recuperando dos cancelamentos de reservas. A infraestrutura pública foi danificada - incluindo 147 câmeras de rua e mais de 300 semáforos, diz o governo.
Díaz disse que, por duas vezes em um mês, ela teve que se agachar em sua loja no sofisticado distrito de Providencia - e cobrir as janelas com plástico preto - para impedir que manifestantes vissem as vitrines de madeira e as transformassem em combustível de barricadas.
Outras vezes, ela só consegue abrir metade do dia. Díaz precisou demitir duas pessoas da equipe de vendas e diz que não pode mais manter a loja fechada: “Não temos poupança. Se não abrirmos a loja, não teremos dinheiro para comprar mais nada.”
Outros setores também foram atingidos. A produção agrícola deve encolher 2% este ano, devido às interrupções nos portos e à seca, de acordo com a Sociedade Nacional Agrícola. Na manufatura, a estimativa é de um declínio de 1%, seguido de uma retomada em 2020.
O governo prometeu US$ 1,2 bilhão em gastos sociais destinados a pensões para pessoas de baixa renda e seguro de saúde, elevando o déficit fiscal de 2% para 2,9%. O Chile não pode se dar ao luxo de ir mais longe para atender às demandas dos manifestantes, como um aumento de 50% das pensões, disse o ministro da Fazenda, Ignacio Briones, na segunda-feira.
Na semana passada, o governo e os partidos da oposição fecharam um acordo para reformar a Constituição, promulgada na ditadura de Augusto Pinochet, o que levou a um rali no mercado alimentado pelas expectativas de que a medida possa apaziguar os manifestantes.
Briones, que havia alertado anteriormente que 300 mil empregos poderiam ser perdidos, parecia mais otimista após o acordo. Ele previu que o Chile evitará uma recessão técnica (dois trimestres seguidos de queda do PIB).
Para economistas, essa probabilidade ainda é de 50/50.