Economia

Casos Neon e Inter assustam o efervescente mercado de fintechs no país

Liquidação do Banco Neon e notícias sobre um possível vazamento de dados de clientes do Banco Inter salientaram desafios de uma indústria nascente

Fintechs: setor ganhou popularidade nos últimos anos oferecendo crédito e outros produtos e serviços financeiros mais baratos do que os de rivais maiores (Pexels/Divulgação)

Fintechs: setor ganhou popularidade nos últimos anos oferecendo crédito e outros produtos e serviços financeiros mais baratos do que os de rivais maiores (Pexels/Divulgação)

R

Reuters

Publicado em 4 de maio de 2018 às 20h54.

São Paulo - A liquidação extrajudicial do Banco Neon e notícias sobre um possível vazamento de dados de clientes do Banco Inter estremeceu nesta sexta-feira o mercado de fintechs, salientando os desafios de uma indústria nascente que tem se disposto a enfrentar o domínio de grandes bancos no Brasil.

Executivos do setor, que ganhou popularidade nos últimos anos oferecendo crédito e outros produtos e serviços financeiros mais baratos do que os de rivais maiores, mostraram-se assustados com os possíveis desdobramentos das notícias na percepção de potenciais clientes e investidores.

"Criou a situação de ter que explicar a diferença entre um banco e uma fintech", disse Rafael Pereira, presidente da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD).

Desde meados de 2013, as fintechs se multiplicaram no país, operando sempre em parceria com alguma instituição financeira autorizada a operar pelo Banco Central, em geral um banco de médio porte ou uma cooperativa de crédito. Hoje são mais de 400 dessas plataformas, segundo a ABFintechs, entidade do setor. Só as de crédito geram cerca de 2 bilhões de reais por ano em novos financiamentos.

Quase sempre, o nome da fintech é diferente do banco, não só porque os sócios são diferentes, mas também porque em muitas vezes essas plataformas trabalham com mais de um parceiro. O caso Neon criou um embaraço porque ambos usavam a mesma marca.

A instituição financeira até cerca de dois anos atrás usava o nome Banco Pottencial, o mesmo desde a fundação em 1994, em Belo Horizonte. Em 2010, quatro de seus diretores foram denunciados pelo Ministério Público Federal pelos crimes de gestão fraudulenta e gestão temerária.

Em meados de 2016, a instituição passou a se chamar Banco Neon e a operar em parceria com a Neon Pagamentos, plataforma criada pelo empresário Pedro Conrade, na época com 24 anos.

Mesmo com o BC explicitando a diferença entre um e outro no anúncio da liquidação, a fintech, que oferece cartões pré-pagos e contas de pagamentos, passou o dia se explicando para o público.

"Os recursos depositados em contas de pagamentos dos clientes encontram-se disponíveis para saque e compras por meio de cartão de débito e não serão afetados pela liquidação extrajudicial do Banco Neon", afirmou a fintech em comunicado.

Empreendedores de algumas das plataformas financeiras mais conhecidas do mercado disseram temer que os episódios vão forçar o amadurecimento precoce do setor.

"Isso vai levar grandes investidores a fazerem um escrutínio maior no setor antes de decidirem por novos aportes de recursos", disse um empresário do setor, que pediu anonimato.

Ironicamente, a intervenção no Banco Neon aconteceu apenas um dia depois após a Neon Pagamentos ter recebido um aporte de 72 milhões de reais numa rodada liderada pelo fundo brasileiro Monashees e pelo estrangeiro Omidyar Network, do fundador do eBay, Pierre Omidyar.

O anúncio também veio na esteira de vários aportes de centenas de milhões de reais captados por fintechs como Creditas, Nubank e GuiaBolso desde meados do ano passado e também do IPO do Inter, no final do mês passado. A liquidação do Neon veio ainda alguns dias depois do Agibank publicar prospecto preliminar para oferta de ações.

Em nota nesta sexta-feira, a Omidyar Network afirmou que "continua acreditando no modelo de negócios e equipe da Neon Pagamentos, que já está trabalhando para identificar um novo parceiro bancário" para normalizar suas operações.

Coincidência

Outro aspecto surpreendente da liquidação do Banco Neon foi o fato de ter ocorrido uma semana depois do BC ter divulgado uma regulação para o setor de fintechs, o que foi visto como um elemento para ampliar a atuação do setor.

"Esses dois episódios mostram que o BC está comprometido com uma agenda, a de reduzir o custo do crédito, e não em defender um grupo", disse outro empresário do setor, também na condição de anonimato.

Não bastasse isso, o setor também passou o dia respondendo a questionamentos após notícias sobre vazamento de dados de clientes do Inter, apenas quatro dias após a unit da instituição ter estreado na bolsa de valores. Nesta sexta-feira, a unit do Inter fechou em baixa de 6 por cento.

Em nota, o Inter disse que foi vítima de tentativa de extorsão e que imediatamente constatou que não houve comprometimento da segurança no ambiente externo e nem dano à sua estrutura tecnológica.

(Com reportagem adicional de Carolina Mandl)

Acompanhe tudo sobre:Banco Neonbanco-interBancosFintechs

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo