Guedes (arquivo): "Pô, presidente, isso aí é carrinho, entrada perigosa, ainda bem que foi fora da área, senão era pênalti" (Adriano Machado/Reuters)
Ligia Tuon
Publicado em 28 de agosto de 2020 às 18h54.
Última atualização em 28 de agosto de 2020 às 20h04.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, fez piada com o que chamou de vazamento da ideia inicial do Ministério da Economia para o programa Renda Brasil, substituto do Bolsa Família, que previa um valor de 247 reais, condicionado a outras medidas, como o fim do abono salarial ou das deduções com saúde e educação no imposto de renda.
"Tomei uma dessas", disse ele, ao participar de uma conferência virtual promovida pelo Instituto Aço Brasil, em referência à chamada do presidente Jair Bolsonaro, que não gostou da proposta e mandou que ela fosse reavaliada.
O ministro ainda fez piada com o assunto. "Pô, presidente, isso aí é carrinho, entrada perigosa, ainda bem que foi fora da área, senão era pênalti", afirmou.
Guedes afirmou ainda que o governo está na "reta final" para definir o programa para atender a população de baixa renda. Segundo ele, ainda não foi decidido se a opção será "aterrissar" no auxílio emergencial em um valor mais baixo até o fim do ano ou diretamente no Renda Brasil, um programa "robusto, mas que exige ajustes", classificou ele, ao falar sobre o programa que vai substituir o Bolsa Família.
"Estamos na reta final. Nos próximos dias, deve sair a prorrogação de auxilio ou Renda Brasil", assinalou Guedes.
O ministro asseverou que "tudo será feito dentro do teto, com responsabilidade fiscal, com transparência", disse, destacando a importância da responsabilidade fiscal para a retomada do crescimento. Também procurou transmitir a mensagem de que sua agenda conta com o apoio de Bolsonaro.
Guedes sustentou que, ao mesmo tempo em que sabe da necessidade de levar adiante obras necessárias, o presidente é comprometido com a austeridade fiscal. Ele afirmou ainda que são normais os embates entre ministros que querem fazer mais gastos e ministros fiscalistas, mas, no fim, as decisões de Bolsonaro têm sido no sentido da responsabilidade com as contas públicas e de só realizar investimentos dentro das regras fiscais.
"Estamos lutando para manter um horizonte de previsibilidade. Está claro que se os gastos foram elevados num ano, a responsabilidade fiscal exige que, passada a crise da saúde, temos de voltar a gastos normais", assinalou Guedes ao participar de conferência virtual do Instituto Aço Brasil.
O ministro aproveitou ainda para rebater os ataques à sua ideia de criar um imposto sobre transações eletrônicas, que o governo tenta desvincular da antiga CPMF.
"A ideia de que queremos aumentar imposto, criar imposto novo para políticas populistas é equívoco, é fake news, é guerra política", comentou Guedes, ao frisar que o propósito do governo é ampliar a base tributária para desonerar a folha de pagamentos.
O ministro disse que o teto de gastos será mantido enquanto for necessário, mas que não vê essa dispensa "por enquanto". Guedes disse que o Brasil está em uma trajetória de recuperação econômica em 'V', "como esperávamos". Para Guedes, o país conseguiu manter os "sinais vitais" da economia durante o auge da pandemia e agora eles estão sendo "reativados".
Guedes afirmou que o Brasil vai retomar o caminho das reformas, mas reconheceu que quem dá o ritmo é a política. O ministro disse ainda que o presidente Jair Bolsonaro é favorável a manter uma agenda de estímulo da economia, mas mantendo a responsabilidade fiscal.
"O presidente dá todo apoio às reformas", disse. "O Congresso é reformista, avança conosco. Aprovamos o marco do saneamento e agora vem gás natural", acrescentou.
Segundo ele, a proposta do novo marco do gás natural deve ser votada na próxima semana pela Câmara. Guedes citou ainda os marcos do setor elétrico e da cabotagem entre os que devem ser aprovados em breve pelo Legislativo. "O horizonte de investimentos será destravado", afirmou.
Guedes disse ainda que a reforma tributária já está na comissão mista do Congresso e que o pacto federativo está no Senado. Sobre a reforma administrativa, ele afirmou que Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), estão próximos de um acordo. "O presidente disse que estamos praticamente prontos para avançar", afirmou.
Sobre os impactos da covid-19 na economia, o ministro disse que o país está "furando a primeira onda, atravessando para o lado de lá". "Praticamente acabou a conversa de falta de respiradores e máscaras", afirmou.
Guedes avaliou que o Brasil não sofreu efeitos tão fortes de um choque externo, como estimava o Fundo Monetário Internacional (FMI). "O agronegócio foi decisivo, mantiveram as exportações e as prateleiras cheias", disse.
O ministro disse que as exportações estão sendo mantidas, devido ao câmbio favorável, e que elas caíram para Argentina, Estados Unidos e Europa, mas aumentaram para Ásia e China.
O ministro salientou ainda que o ministério está finalizando também novas medidas de financiamento de empresas, anunciando entre R$ 100 bilhões e R$ 200 bilhões adicionais em crédito a empresas até o fim do ano.
"Vem aí uma enxurrada de crédito até fim do ano. Crédito, que teve problema no início, agora chegou na ponta", afirmou o ministro.
Segundo ele, algo entre 2 milhões e 4 milhões de reais estão sendo concedidos em crédito em programas como o Pronampe e para microempreendedores individuais, por meio de maquininhas. "A economia já pegou no tranco", disse. "O crédito, que teve problema no início, agora chegou e está entrando."