Pessoa passa o cartão de crédito na máquina leitora: uma das hipóteses que explicaria essa mudança de perfil é que o próprio consumidor, mais cauteloso, reduziu o uso do cartão de crédito (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 29 de outubro de 2013 às 08h53.
São Paulo - Pela primeira vez em dois anos, o carnê e o boleto ultrapassaram o cartão de crédito como a forma de pagamento que levou o consumidor à inadimplência.
Pesquisa trimestral feita pela Boa Vista Serviços para traçar o perfil do inadimplente revela que, no mês passado, o carnê e o boleto lideraram o ranking dos meios de pagamentos que causaram a restrição, com 30% das respostas, seguidos pelo cartão de crédito, com 28%.
"Fazia muito tempo que o carnê e o boleto não eram os principais meios de pagamento apontados como os responsáveis pelo avanço da inadimplência", observa o economista da Boa Vista Serviços, Flávio Calife.
A última vez que o carnê e o boleto ocuparam a liderança desse ranking foi em setembro de 2011 e com porcentuais menores do que os atuais: o carnê e o boleto com 28% e o cartão de crédito com 22%.
De março do ano passado em diante, o cartão assumiu a liderança, com 29%. Em junho de 2012, o indicador subiu para 30% e se mantém em 28% desde dezembro do ano passado.
A enquete, feita com cerca de mil consumidores inadimplentes no mês passado, indica uma mudança importante de comportamento das lojas e do consumidor.
Como os bancos ficaram mais seletivos na concessão de crédito, os lojistas optaram por vender a prazo por meio de carnê e boletos. Dessa forma, escapam do maior rigor imposto pelas instituições financeiras.
A segunda hipótese, segundo Calife, que explicaria essa mudança de perfil, é que o próprio consumidor, mais cauteloso, reduziu o uso do cartão de crédito. "O consumidor está mais preocupado."
Desemprego
Outro resultado relevante da pesquisa é que cresceu, de junho deste ano para setembro, em 4 pontos porcentuais, a fatia de inadimplentes que atribuíram ao desemprego o principal motivo do calote. No mês passado, 34% apontaram a perda de emprego como a causa mais importante. Na pesquisa anterior, em junho de 2013, essa fatia era de 30%.
Em contrapartida, houve queda, de junho para setembro, no número de entrevistados que apontaram o descontrole como o principal motivo do calote. Em junho, esse indicador estava em 28% e, no mês passado, em 23%.
"A diferença entre a fatia de inadimplentes que aponta o desemprego e a que atribui o descontrole de gastos é de 11 pontos porcentuais", ressalta Calife. Ele observa que, no segundo trimestre deste ano, o desemprego também era tido como o principal fator, seguido pelo descontrole. Mas a diferença entre esses dois motivos era de apenas 2 pontos porcentuais. "O desemprego aumentou e o descontrole diminuiu."
Segundo o economista, o avanço do desemprego como principal motivo de calote reflete as mudanças, ainda pequenas, que já estão ocorrendo no mercado de trabalho. Embora a taxa de desemprego tenha batido sucessivos recordes de baixa, o mercado de trabalho passa por uma acomodação e a recolocação para quem perde o trabalho já não é tão rápida como tempos atrás.
Natal
Apesar de a inadimplência representar um obstáculo para os lojistas impulsionarem as vendas, especialmente nesta época do ano que antecede o período de maior faturamento, a pesquisa indica um cenário mais favorável para os próximos meses. De acordo com a enquete, a totalidade dos entrevistados acredita que vai conseguir quitar as pendências parcial ou totalmente nos próximos meses. Em junho essa fatia era de 92% e, em setembro do ano passado, de 91%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.