Economia

Carne isenta de imposto: como foi a aprovação da medida e quais os seus impactos

Isenção de impostos sobre carnes é aprovada na Câmara em meio a disputas políticas e econômicas

Câmara aprovou o projeto que regulamenta a reforma tributária com 336 votos a favor e 142 contrários. (Getty Images/Getty Images)

Câmara aprovou o projeto que regulamenta a reforma tributária com 336 votos a favor e 142 contrários. (Getty Images/Getty Images)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 11 de julho de 2024 às 06h46.

Última atualização em 11 de julho de 2024 às 09h43.

Durante a votação dos destaques do projeto que regulamenta a reforma tributária, a inclusão da carne na lista de produtos isentos de imposto foi um dos pontos mais debatidos entre os deputados. A proposta, costurada pelo relator Reginaldo Lopes (PT-MG), isenta carnes, sal, peixes e queijos da tributação sobre o consumo.

A aprovação da emenda foi uma demanda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas foi apresentada pelo PL, maior partido de oposição do petista. A medida é vantajosa tanto para o consumidor, que pagará menos pelo produto, quanto para o produtor, que venderá sem a incidência do imposto. No relatório anterior de Lopes, a carne teria uma redução de 60% no imposto, mas não estaria completamente isenta.

A disputa pela paternidade da inclusão da carne na cesta básica nacional foi intensa. Base e oposição debateram no plenário sobre quem teria a responsabilidade pela conquista. A aprovação da isenção representou uma derrota para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que havia se posicionado contra a proposta. A equipe econômica do governo também se opôs à medida, considerando seu impacto negativo na arrecadação.

O cálculo da equipe econômica indica que a isenção das carnes aumentará a alíquota do imposto único em cerca de 0,53 ponto percentual para manter a arrecadação tributária atual. A Câmara ainda não esclareceu quais medidas de compensação serão adotadas para incluir as proteínas animais nos alimentos isentos, uma vez que a reforma tributária estabeleceu um teto de 26,5% para a alíquota geral.

Aprovada na Câmara

A Câmara dos Deputados aprovou o primeiro projeto que regulamenta a reforma tributária, com 336 votos a favor e 142 contrários. O texto agora segue para o Senado. As regras da reforma serão aplicadas de forma escalonada nos próximos anos, com os efeitos sendo sentidos ao longo dos próximos anos. Após a votação do texto-base, os deputados analisaram os destaques, com a principal discussão focada na tributação zero para a carne bovina e o frango.

A emenda sobre a isenção para a carne foi um ponto central na negociação política. Embora a equipe econômica do governo se opusesse à medida, argumentando o impacto negativo na arrecadação, a pressão política e a necessidade de atender às demandas dos eleitores foram determinantes para a aprovação. A reforma tributária, no entanto, mantém a complexidade das discussões sobre como equilibrar a carga tributária sem prejudicar a arrecadação e a eficiência econômica.

Impacto econômico

A isenção da carne, apesar de benéfica para consumidores e produtores, trouxe preocupações sobre seu impacto na arrecadação tributária. A equipe econômica do governo havia se posicionado contra a medida, considerando o aumento potencial da alíquota do imposto único necessário para compensar a perda de receita. A inclusão das carnes na cesta básica também foi vista como uma derrota para Lira,que classificou a medida como uma "insanidade".

A disputa pela paternidade da inclusão da carne na isenção de impostos reflete a intensa competição política entre base e oposição. O governo argumenta que a carga tributária não aumentará com a reforma, mantendo a alíquota única de 26,5% para os impostos sobre consumo e garantindo que a tributação não seja mais cumulativa. Isso significa que o pagamento de tributos incidirá apenas uma vez na cadeia produtiva, potencialmente reduzindo custos e aumentando a eficiência produtiva.

Cashback

Outro destaque derrubado durante a votação foi a cobrança do imposto seletivo, ou "imposto do pecado", para armas. Com a rejeição, armas não serão submetidas a esse imposto, que visa taxar itens nocivos à saúde ou ao meio ambiente. A oposição argumenta que a reforma aumentará impostos, mas o governo nega essa afirmação, sustentando que a carga tributária será equilibrada para não aumentar nem diminuir.

O texto também propõe mudanças no mecanismo de devolução de impostos para a população inscrita no Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal, conhecido como "cashback". Pela nova proposta, ele será destinado às famílias com renda per capita de até meio salário-mínimo, com devolução de 100% do CBS para energia elétrica, água, esgoto e gás natural. A devolução será feita diretamente na conta das faturas de energia e água, enquanto outras regulamentações definirão como será feito o "cashback" para outras áreas.

Acompanhe tudo sobre:BrasilEconomiaCarnes e derivadosReforma tributáriaLuiz Inácio Lula da Silva

Mais de Economia

Após mercado prever altas da Selic, Galípolo afirma que decisão será tomada 'reunião a reunião'

IBC-Br: prévia do PIB sobe 0,80% em setembro, acima do esperado

Após explosões na Praça dos Três Poderes, pacote de corte de gastos só será anunciado depois do G20

Governo avalia mudança na regra de reajuste do salário mínimo em pacote de revisão de gastos