Campos Neto: o presidente do BC explicou que o mercado espera entender como o governo vai fazer para desenvolver o novo Bolsa Família ao mesmo tempo em que respeita as regras fiscais (Andre Coelho/Bloomberg/Getty Images)
Agência O Globo
Publicado em 1 de outubro de 2021 às 14h09.
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira que as discussões sobre o pagamento dos precatórios e o financiamento do Auxílio Brasil em 2022 serão uma “página virada” em breve.
Em evento de uma instituição financeira, Campos Neto ressaltou que o mercado está preocupado com as incertezas na economia, principalmente ligadas ao risco fiscal.
— Acredito que quando você virar a página nesse tema, nós seremos capazes de avançar e acredito que vamos virar essa página em breve — destacou.
O presidente do BC explicou que o mercado espera entender como o governo vai fazer para desenvolver o novo Bolsa Família ao mesmo tempo em que respeita as regras fiscais.
— A questão é qual será a equação que vai chegar a uma solução que ao mesmo tempo resolva todas as necessidades básicas para a população mais pobre, mas ao mesmo tempo respeite o regime fiscal que temos — disse.
Ao mesmo tempo que Campos Neto fazia sua palestra, o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciava em um evento no Palácio do Planalto a extensão do Auxílio Emergencial. Quase uma hora depois, a assessoria da pasta corrigiu o ministro e afirmou que o governo quer o Auxílio Brasil.
— O ministro Tarcísio (de Freitas, da Infraestrutura) vai vender mais 22 aeroportos. O ministro Rogério Marinho (do Desenvolvimento Regional) vai terminar as obras que ficaram inconcluídas. O ministro João Roma vai estender o auxílio emergencial. Nós somos um time remando pelo Brasil — disse Guedes ao discursar em um evento sobre a Cédula de Produto Rural (CPR) Verde.
A fala causou confusão porque parte do governo estuda prorrogar o Auxílio Emergencial, mas a equipe econômica vinha se posicionando contra essa renovação. O entendimento é que a prorrogação fora das regras orçamentárias preocupa do ponto de vista fiscal.
O governo tem uma conta de R$ 89,1 bilhões em precatórios — decisões judiciais contra a União sem possibilidade de recurso — para 2022 e vem tentando solucionar a questão pela Justiça e pelo Congresso Nacional, seja estabelecendo um teto para pagamentos ou os parcelando. Segundo Campos Neto, as pessoas estão enxergando um problema com a questão fiscal.
— Quando você olha para os precatórios, eles têm crescido em um ritmo que basicamente elimina sua liberdade em termos de utilizar seu Orçamento — disse.
De acordo com o presidente do BC, o "ruído" está ligado a como o novo programa social será financiado.
— O ruído no curto prazo é relacionado a qual tipo de programa social o governo quer fazer, como vai ser financiado e se vai ser permanente, temporário, como vamos lidar com o programa temporário que está ativo agora, como ele vai se juntar com o programa permanente.
E continuou:
— Acredito que muitas dessas perguntas estão sem resposta e isso está criando um pouco de apreensão, mas quando a página estiver virada, será possível evoluir nessa questão — explicou.
Campos Neto também comentou sobre as seguidas altas na inflação neste ano. Como mostrado no Relatório de Inflação divulgado na quinta-feira, o presidente do BC disse que o pico será em setembro e depois o índice deve arrefecer até o final do ano. As atuais projeções da autoridade monetária são de 10,2% em setembro e 8,5% em dezembro.
Ele explicou que a primeira onda de surpresas para a inflação foram de alimentos e commodities no ano passado. Este ano, o país já passou por vários outros choques, como o da energia.
— Tivemos o choque de energia, alguns choques relacionados a questões climáticas que afetam a alimentação local e as últimas duas divulgações de inflação mostraram o setor de serviços contribuindo para a alta e isso é esperado com a reabertura da economia.
O presidente do BC ainda fez questão de afirmar que a autoridade monetária vai subir a Selic para onde for preciso para cumprir as metas de inflação.
— É muito importante dizer que nós não acreditamos em ajustar a meta, nós acreditamos em atingir a meta. Ajustar a meta impõem prejuízos para a credibilidade e afeta estruturalmente o jeito em que nós fazemos política monetária — ressaltou.