Economia

Campos Neto sinaliza corte de 0,25 pp em maio e abre porta para alta de juros, dizem investidores

Afirmação de que o BC fará o que for necessário para ancorar as expectativas de inflação indica chance de aumento da Selic, dizem investidores presentes em Nova York

Roberto Campos Neto: o presidente do BC fez avaliações durante palestra para investidores em Nova York (Edilson Rodrigues/Agência Senado/Flickr)

Roberto Campos Neto: o presidente do BC fez avaliações durante palestra para investidores em Nova York (Edilson Rodrigues/Agência Senado/Flickr)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 17 de abril de 2024 às 18h08.

Última atualização em 17 de abril de 2024 às 20h14.

Três investidores de fundos e bancos estrangeiros que investem no Brasil se surpreenderam ao acompanhar presencialmente o discurso do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, nesta quarta-feira, 17, em Nova York. Reservadamente, eles relatam à EXAME que Campos Neto deixou duas mensagens claras.

O aumento das incertezas desde a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) consolida a aposta de queda de 0,25 ponto percentual de juros já em maio. Além disso, a ênfase dada à busca pela ancoragem das expectativas de inflação abre a porta até para um aumento de juros.

“Campos fez um discurso duro. Primeiro, o cenário base, para corte de 0,5 ponto percentual, piorou. Isso significa que as chances de uma queda de 0,25 ponto percentual subiram consideravelmente. O segundo ponto tem relação com medo de perda de credibilidade, já que as expectativas de inflação podem subir em decorrência da piora fiscal. Ele colocou todas as cartas na mesa ao sinalizar que vai fazer ‘o que for necessário’ para ancorar as expectativas. Isso abre a porta para alta de juros”, disse um dos investidores à EXAME.

Um dos presentes disse que o discurso duro de Campos Neto pode abrir outra crise política com o governo. Entretanto, a mensagem do presidente do BC foi bem recebida pelo mercado e mostra um compromisso com a estabilidade de preços no Brasil, relatou outra pessoa que acompanhou a palestra do comandante da autoridade monetária.

“Lula pode subir o tom contra Campos Neto, mas a decisão de delegar o ajuste fiscal para o próximo presidente repercutiu negativamente. Isso sinaliza que o governo tende a gastar mais, o que pode ser o início de uma nova crise econômica para o país”, disse um dos investidores.

Impactos sobre expectativas

Tradicionalmente, mudanças nas metas fiscais se traduzem em aumento das expectativas de inflação.

A EXAME consultou ex-diretores do BC que produzem modelos semelhantes aos da autoridade monetária para estimar a inflação de 2024 e dos próximos anos. Em todos eles as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiram consideravelmente com a decisão do Ministério da Fazenda de zerar o déficit público somente em 2025 e promover um ajuste fiscal somente no próximo governo.

Campos Neto deu um recado importante sobre expectativas de inflação ao dizer que o BC terá um “trabalho difícil à frente”, mas que fará o que for necessário para ancorar as estimativas.

Segundo ele, esses dados são muito relevantes para o Copom e que fará o que for necessário para ancorar as expectativas. Com o aumento das incertezas fiscais, o risco de o ciclo de queda de juros ser interrompido aumentou.

“As expectativas de inflação são muito relevantes para nós. Não há dúvida de que é muito importante manter as expectativas de inflação ancoradas. Sabemos que teremos um trabalho difícil à frente. Vamos fazer o que for necessário para ancorar as expectativas de inflação”, disse o presidente do BC.

Com a mudança da meta fiscal, a deterioração das expectativas tende a ocorrer rapidamente. Resta saber como o BC reagirá a esse processo.

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