Roberto Campos Neto: percepção de empresários sobre inflação é mais pessimista que a do mercado financeiro (Andre Coelho/Bloomberg via/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 18 de novembro de 2024 às 16h01.
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira, 18, que a piora nas previsões de inflação não pode ser atribuída à má vontade do mercado financeiro, comumente associado à Faria Lima. Ele explicou que as expectativas de empresários e do setor privado são ainda mais pessimistas do que as dos agentes financeiros.
Em análise baseada na pesquisa Firmus, conduzida pelo BC, Campos Neto destacou que os empresários e varejistas demonstram percepções mais deterioradas em relação à inflação. “Quando olhamos as expectativas do Firmus, vemos que o ‘mundo real’, composto por empresários e varejo, é mais pessimista que os agentes financeiros”, declarou durante evento promovido pela São Paulo Consulting House.
De acordo com Campos Neto, essa tendência não é exclusiva do Brasil e ocorre em outros países. O Boletim Focus, que reúne estimativas do mercado financeiro, aponta que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encerrar 2025 em 4,12%. Esse valor ultrapassa a meta oficial de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual.
O presidente do BC também vinculou a alta das taxas de juros de longo prazo à incerteza em relação ao cumprimento do novo arcabouço fiscal. Segundo ele, embora a situação fiscal do país não represente um “desastre iminente”, são necessárias correções urgentes no controle de gastos. “Temos muitos recursos e possibilidade de ajustar a rota, mas isso deve ser feito pelo lado das despesas, não das receitas”, afirmou.
Campos Neto defendeu um “choque positivo” no ajuste fiscal, reiterando que um pacote que misture aumento de arrecadação com cortes de despesas pode dificultar o debate e as soluções necessárias. Ele alertou que a deterioração das expectativas afeta diretamente as decisões econômicas de empresários e investidores.
“Quando os preços pioram e depois recuam, isso não significa que tudo volta ao estado anterior. Esse processo cria cicatrizes, pois decisões importantes já foram tomadas”, explicou Campos Neto, enfatizando a necessidade de ações rápidas para estabilizar as expectativas.
Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, um novo pacote fiscal, com impacto estimado entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões, será apresentado após a Cúpula do G20, que ocorrerá no Rio de Janeiro. A ancoragem fiscal, conforme Campos Neto, está intrinsecamente relacionada à ancoragem monetária, sendo crucial para conter os efeitos adversos das expectativas de inflação.