Economia

Campos Neto: inflação preocupa e mercado está mais apreensivo sobre o fiscal

Presidente do Banco Central explicou que o crescimento do país acima do esperado e o mercado de trabalho aquecido podem pressionar a inflação

presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto.
 (Pedro França/Agência Senado/Flickr)

presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto. (Pedro França/Agência Senado/Flickr)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 24 de setembro de 2024 às 10h19.

Última atualização em 24 de setembro de 2024 às 11h17.

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O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira, 24, que a dinâmica da inflação ainda preocupa os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) e que o mercado demonstra uma apreensão maior em relação ao quadro fiscal do país.

"Temos um desconforto grande com as expectativas de inflação. Mais recentemente, vimos 2024 subindo, as projeções de longo prazo ainda estão bem acima da nossa meta", disse Campos Neto durante a J. Safra Brazil Conference 2024, realizada pelo Banco Safra.

Campos Neto explicou que o crescimento do país acima do esperado e o mercado de trabalho aquecido podem pressionar a inflação, mas que não há certeza absoluta sobre a influência da mão de obra apertada no IPCA.

"Há indícios de que [a baixa taxa de desemprego] começa a ser um fator mais restritivo", disse.

Sobre a apreensão do mercado após o governo anunciar uma redução do congelamento de verbas no Orçamento de 2024, Campos Neto afirmou que a reação gerou um aumento do prêmio de risco e está relacionada a uma suposta falta de transparência do governo com os dados fiscais.

"Surgiu esse tema da qualidade dos dados, então é importante acompanhar, mas precisamos observar em um horizonte mais longo, passar por esses ruídos de curto prazo", disse. "Olhando os preços do mercado, parece haver um exagero".

Em relação ao aumento de gastos, o chefe do Banco Central disse que o arcabouço fiscal força o governo a realizar revisões e que a autarquia projeta uma desaceleração dos gastos. Ele apontou, porém, que as projeções mais otimistas não mostram uma convergência da dívida pública.

Em ata divulgada nesta terça-feira, os membros do Copom sinalizaram que o cenário econômico demanda uma política monetária "mais contracionista" e deixaram a porta aberta para aumentar o ritmo de alta da taxa de juros do país.

Brasil cresce acima do potencial

Sobre a revisão das expectativas de crescimento do PIB de 2024, que está em 3% segundo o último Boletim Focus, Campos Neto disse que o Brasil está crescendo acima do potencial na margem, com números qualitativamente melhores.

"Tivemos revisões sucessivas para cima em 2024 e transbordando para 2025. Nos últimos números, inclusive, a formação bruta de capital surpreendeu, mostrando um número qualitativamente melhor", afirmou.

O presidente do BC acrescentou que o consumo das famílias segue forte, e por isso é necessário entender o que é crescimento estrutural e o que é impulsionado pelo fiscal.

"É importante observar a qualidade desse crescimento do PIB", disse.

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