As LFTs fecharam setembro com a primeira queda mensal no preço em 18 anos (Andre Coelho/Bloomberg)
Reuters
Publicado em 8 de outubro de 2020 às 15h06.
Última atualização em 8 de outubro de 2020 às 15h24.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, apontou nesta quinta-feira o aumento recente do prêmio em LFTs, títulos públicos pós-fixados, ao destacar o risco fiscal no país.
Esses papéis, outrora vistos como os de menor risco na renda fixa, têm sido pouco demandados pelos investidores em meio à nova realidade dos juros básicos e, com a escalada dos temores fiscais, têm sofrido deságio acentuado do último mês para cá.
Em apresentação para o evento Itaú LatAm Day, Campos Neto exibiu um gráfico mostrando a elevação dos prêmios de meados de setembro em diante, com a continuação do movimento neste início de outubro.
Relevantes tanto para a indústria de fundos de renda fixa quanto para serem utilizadas como garantia em operações com derivativos, as LFTs fecharam setembro com a primeira queda mensal no preço em 18 anos, com recuo de 0,27% conforme o índice IMA-S da Anbima.
Em outubro até agora, o recuo das LFTs foi de 0,43%.
Também mencionando o risco fiscal, Campos Neto chamou atenção, em outro gráfico, para o aumento da diferença das taxas de juros de cinco anos do Brasil com relação a outros países emergentes.
Na quarta-feira, o presidente do BC já havia frisado, em entrevista à rádio Jovem Pan, que a trajetória da curva de juros no Brasil está muito ligada à percepção de estabilidade fiscal, que tem sido colocada em xeque em meio a indefinições sobre o financiamento de um novo programa de transferência de renda a partir do ano que vem e seu enquadramento na regra do teto de gastos.
Campos Neto disse à rádio que tem conversado com o governo sobre a dinâmica recente da dívida, com a avaliação de que o aumento recente dos prêmios em títulos curtos faz parte de um desequilíbrio "muito perigoso".
"Começou a ter uma percepção no mercado que a necessidade de rolagem de dívida era muito alta. Isso pressiona o prêmio desses títulos de dívida, faz com que as taxas de juros futuras comecem a subir. O governo reage encurtando um pouco a dívida, depois os próprios papéis de dívida mais curta começam também a ter um prêmio e isso gera uma disfuncionalidade", afirmou ele à rádio.
"Nós (do BC) somos a parte monetária e cambial da equação, mas a gente sempre tem uma interação com o governo no sentido de alertar que isso é um equilíbrio, ou é um desequilíbrio, melhor falando, muito perigoso", acrescentou.
PERSPECTIVAS PARA A SELIC
Nesta quinta-feira, Campos Neto também reiterou que o BC não pretende elevar a Selic --hoje em 2% ao ano-- a menos que as expectativas e projeções de inflação fiquem suficientemente próximas das metas em seu horizonte relevante, que abarca 2021 e, em menor grau, 2022.
Campos Neto repetiu ainda que, em razão de questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para cortar ainda mais os juros básicos, se existente, deverá ser pequeno.
A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) acontece nos dias 27 e 28 deste mês.