Na semana passada, a Petrobras anunciou nova política de preços de combustíveis e queda nos valores cobrados por gasolina, diesel e gás de cozinha (Marcos Oliveira/Agência Senado)
Agência de notícias
Publicado em 22 de maio de 2023 às 12h01.
Última atualização em 22 de maio de 2023 às 13h05.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, comentou nesta segunda-feira, 22, em seminário do jornal Folha de S.Paulo as expectativas de inflação do Boletim Focus. Para 2023, a mediana tombou de 6,03% para 5,80% nesta segunda, de acordo com ele "muito em função de preços de combustíveis". Na semana passada, a Petrobras anunciou nova política de preços de combustíveis e queda nos valores cobrados por gasolina, diesel e gás de cozinha.
O presidente do BC ainda avaliou que as expectativas de inflação longa "colaram" em 4% e estão persistentes. Segundo ele, a permanência dessas expectativas de 2025 e 2026 em 4%, longe do centro da meta de 3%, deve-se principalmente à incerteza sobre a meta de inflação, com "debate do governo".
Mas há efeitos relacionados ao fiscal, que, segundo ele, está sendo endereçado e ruídos entre governo e BC que leva à incerteza sobre o cumprimento dos objetivos pela autoridade monetária. "O tema da meta é predominante hoje. Mas já elementos para ver expectativas de inflação caindo", avaliou.
Segundo Campos Neto, a inflação brasileira atualmente se situa abaixo da média mundial. "Não que a inflação brasileira esteja dentro da meta, mas inflação global subiu muito", disse, completando que os núcleos de inflação, em 7,5% em termos anualizados, ainda estão muito acima da meta.
Roberto Campos Neto também voltou a destacar, em seminário do jornal Folha de S.Paulo, a precificação da curva de juros futuros para a queda da taxa Selic no Brasil e em outros países da América Latina. "Nos países que começaram a elevar juros antes, como México, Chile, Colômbia, e Brasil, os mercados precificam queda de juros. Mercados entendem que o processo em parte está funcionando", disse, nesta segunda-feira, 22, completando que alguns países, onde os juros subiram menos, ainda precificam aperto monetário.
Segundo Campos Neto, em relação à inflação, o grande embate hoje é nos núcleos de inflação. No índice cheio, o presidente do BC mencionou que, na América Latina caiu bastante, com destaque para o Brasil. "Os núcleos, em países avançados, não só não caíram, como estão no máximo e voltaram a subir. Na América Latina, caiu muito pouco."
Ele lembrou o choque causado pela demanda de bens e, consequentemente, energia, após o impulso fiscal da pandemia, e avaliou que a tem voltado à tendência, mas ainda distante. "Não existe interpretação hoje de que a inflação é de oferta, é mais dominada por fatores de demanda."
Campos Neto destacou que a aprovação da autonomia formal, tema do seminário, foi uma "luta muito árdua", que demandou conversas longas com parlamentares, governo e, depois que judicializado, com o Supremo Tribunal Federal (STF).
A autonomia foi aprovada em fevereiro de 2021 pelo Congresso Nacional, mas questionada no STF na sequência, onde foi confirmada em agosto do mesmo ano.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou nesta segunda-feira, 22, em seminário do jornal Folha de S.Paulo o movimento de melhora de expectativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e avaliou que tende a continuar no curto prazo. "Entendemos que movimento para cima deve continuar no curto prazo, se estabilizando em torno de 1 5%", disse.
Nesta segunda, no Boletim Focus do BC, a expectativa para 2023 subiu de 1,02% para 1,20%, após surpresas na atividade no primeiro trimestre.
Segundo Campos Neto, no mundo, há uma discussão sobre uma mudança comportamental da população que poderia estar favorecendo serviços. Campos Neto avaliou que isso é mais claro em países que têm microdados, como Estados Unidos e membros da zona do euro, mas que também ocorre no Brasil. "As pessoas podem estar querendo viver mais experiências. Serviços mostram nova dinâmica, no Brasil não é diferente."
O presidente do BC afirmou que, em termos de atividade, os emergentes estão um pouco acima dos países avançados. "Nos EUA, poupança da pandemia está acabando, e estoque grande está sendo consumido."
Ele ainda repetiu que as taxas de juros estão altas no mundo inteiro e citou um fenômeno que tem acontecido em algumas regiões, que é a exportação do crédito para fora do sistema bancário. Nos EUA, o porcentual do crédito fora do sistema bancário já é de 47%, afirmou, mas há movimentos fortes também na Ásia e Europa, enquanto no Brasil ainda é incipiente.
No Brasil, Campos Neto voltou a ressaltar a necessidade de reformas diante de um equilíbrio de baixa taxa de crescimento estrutural e juro neutro e dívida mais elevados. "Se dívida está em 80%, crescimento estrutural em 1,6% e taxa neutra em 4%, como equacionar?", questionou, reforçando a necessidade de reformas. "Temos que ter potencial de crescer mais gerando menos inflação."