Cameron chega à sede da União Europeia, em Bruxelas: Cameron ameaça há semanas vetar a proposta caso não se chegue ao menos a um congelamento em termos reais (©AFP / Georges Gobet)
Da Redação
Publicado em 22 de novembro de 2012 às 17h25.
Bruxelas - O primeiro-ministro britânico, David Cameron, prometeu nesta quinta-feira lutar duro para obter um acordo que satisfaça às demandas de cortes do Reino Unido, antes do início da reunião sobre o orçamento plurianual da União Europeia (UE).
"Vou negociar um bom acordo para o contribuinte britânico e para manter o cheque britânico", declarou Cameron em sua chegada a Bruxelas, referindo-se ao desconto negociado pela ex-primeira-ministra Margaret Thatcher em 1984 para compensar o Reino Unido pelas subvenções agrárias que recebem outros países do bloco de igual tamanho.
"Em um momento no qual estamos tomando decisões difíceis em casa sobre o gasto público, é um grande erro fazer propostas para aumentar o gasto na UE", disse o líder conservador britânico, que tem um mandato de seu Parlamento para obter cortes no orçamento 2014-2020 para refletir a conjuntura econômica atual.
Cameron foi o primeiro a reunir-se nesta manhã, durante a meia hora com presidente da UE, Herman Van Rompuy, e com o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, que defendem propostas distintas.
Van Rompuy, que tem tentado há semanas atingir um consenso que se anuncia árduo, deve apresentar na abertura da reunião uma nova proposta de orçamento com um teto de 973 bilhões de euros, comparado com os 993 bilhões do orçamento atual (2007-2013), que equivaleria a cerca de 1% do PIB do conjunto dos 27 países que formam o bloco.
O governo considera a nova proposta "um passo em uma boa direção", mas crê que ele não chegará "suficientemente longe", segundo um porta-voz de Downing Street.
Esta proposta corta principalmente o gasto nas políticas de coesão e de agricultura, dois temas sensíveis para os países que mais ajuda recebem e para a França, que é contribuinte líquido, mas é também o principal beneficiário da Política Agrícola Comum (PAC).
Contudo, ao cortar a agricultura, o país pode ter reduzido também o montante do chamado "cheque britânico". Em 2011, esta redução foi elevada para 3,6 bilhões de euros, para uma contribuição líquida final de 7,3 bilhões de euros.
Cameron ameaça há semanas vetar a proposta caso não se chegue ao menos a um congelamento em termos reais — ou seja, um aumento limitado únicamente à inflação — com relação ao orçamento 2007-2013.
Contudo, a ala mais antieuropeia de seu partido, estimulada pelo crescente euroceticismo da população votou, com o respaldo da oposição trabalhadora, uma moção na Câmara dos Comuns para que se exija mais em um momento no qual os britânicos devem apertar o cinto devido a um severo plano de austeridade para cortar o déficit nacional.
Apesar de Cameron ser o que parece ter mais exigências nesta reunião, outros oito países do bloco, todos eles contribuintes líquidos (estados cuja contribuição excede as verbas que recebem), defendem algum tipo de corte, ante uma maioria de nações do centro, do leste e do sul da Europa que não querem perder as ajudas que recebem.
Estes veem com melhores olhos a proposta da Comissão Europeia presidida por Barroso, que também se debaterá na reunião que prevê um gasto de 1,047 trilhão de euros dedicado essencialmente ao crescimento e ao emprego.
"Escuto o debate preparatório e todo o debate se concentra na forma de reduzir. Não se fala da qualidade de investimento, é cortar, cortar, cortar", disse Barroso na quarta-feira no Parlamento europeu. "O orçamento da União deve ser verdadeiramente um orçamento de apoio a nossa agenda de crescimento".