Economia

Câmbio mais fácil do mundo é presente de cartéis de drogas

Graças aos traficantes de drogas do México, um modo de gerar lucros de forma rápida se instaurou no aeroporto da Cidade do México


	Cidade do México: de acordo com autoridades, organizações de narcotráfico enviam de US$ 19 bilhões a US$ 39 bilhões por ano dos EUA para o México
 (Wikimedia Commons)

Cidade do México: de acordo com autoridades, organizações de narcotráfico enviam de US$ 19 bilhões a US$ 39 bilhões por ano dos EUA para o México (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 30 de janeiro de 2015 às 20h33.

Cidade do México - Há um modo de gerar lucros rápidos graças aos cartéis de drogas do México. E é tudo dentro da lei.

Trata-se, surpreendentemente, de uma operação cambial disponível todos os dias dentro do aeroporto da Cidade do México, onde há uma diferença de cerca de 3 por cento entre as taxas oferecidas pelas agências de câmbio e pelos bancos locais.

Os dólares baratos comprados dos negociadores de moeda podem ser depositados nos bancos, que estão a apenas alguns passos de distância, por uma taxa mais alta.

Essa transação no aeroporto é uma arbitragem cambial esdrúxula, gerada pelos efeitos colaterais das iniciativas para combater o narcotráfico nos EUA e no México.

As regulações que visam restringir a lavagem de dinheiro tornaram tão oneroso depositar grandes quantidades de dólar em espécie nos bancos que os corretores de moedas preferem se livrar deles com preços de queima de estoque.

“Igrejas, partidos políticos e sindicatos, para citar alguns, sofrem com esse problema: recebem dólares em espécie e não têm o que fazer com eles”, disse César Tello, vice-presidente da associação de agências de câmbio do México, em entrevista na capital. “Se você tem US$ 100.000 e não pode depositá-los, alguém vai estar disposto a comprá-los por um preço que não é favorável”.

No dia 27 de janeiro era possível comprar dólares no aeroporto da Cidade do México por 13,85 pesos. Dentro do mesmo terminal, um banco comprava dólares por 14,3 pesos cada. Uma repórter da Bloomberg News utilizou fundos próprios para comprar US$ 100 e depois depositou o dinheiro em sua conta, obtendo assim um lucro rápido de 45 pesos. Na capital, dá para comprar uma cerveja Corona em um bar por esse valor.

US$ 125 por mês

O lucro potencial é restrito. A maioria dos bancos só compra dólares de pessoas que já têm uma conta e as regulações mexicanas limitam os depósitos em dólar para US$ 4.000 por mês.

Alguns bancos têm tetos mais baixos ou não aceitam as cédulas americanas. Os mexicanos podem abrir contas em mais de um banco, mas de acordo com um lucro médio que ronda 3,2 por cento, e a operação não vai gerar mais do que cerca de US$ 125 por mês em cada conta.

Representantes do banco central do México não quiseram comentar as discrepâncias das taxas de câmbio.

Iván Alemán, vice-presidente do regulador financeiro do México, que dirige o departamento encarregado de compliance, disse que os funcionários estão cientes do modo em que as regulamentações estão afetando os corretores de moedas e estão desenvolvendo uma solução.

De acordo com autoridades dos EUA, as organizações de narcotráfico enviam de US$ 19 bilhões a US$ 39 bilhões por ano dos EUA para o México.

Sergio Espinosa, 36, gerente do Centro Cambiario Scarlett, no Terminal 1, disse que é tão difícil depositar dólares que ele tenta vender e comprar a mesma quantidade todos os dias.

“Eles saem assim que entram”, disse ele em uma entrevista. “Não podemos abrir contas bancárias para depositar nossos dólares porque isso seria considerado lavagem de dinheiro”.

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