Economia

Câmbio está fora de seu ponto de equilíbrio, diz Delfim

Para o ex-ministro, o câmbio em 1,50 estava errado e 2,00 está ligeiramente abaixo do que sua intuição diz que é


	Para Maílson da Nóbrega, “além de o governo ter uma banda informal, o Ministro da Fazenda sugeriu uma novidade, a flutuação só para cima”
 (Casa da Moeda/Divulgação)

Para Maílson da Nóbrega, “além de o governo ter uma banda informal, o Ministro da Fazenda sugeriu uma novidade, a flutuação só para cima” (Casa da Moeda/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 18 de setembro de 2012 às 12h15.

São Paulo - Hoje o câmbio está fora do seu ponto de equilíbrio e é fácil identificar isso, segundo Antônio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda. “Para o meu gosto, 2,10 era melhor que 2,00, mas você não tem condição de fazer o que você quer”, disse Delfim Netto, para quem é necessário atuar para salvar uma indústria que “está sendo depenada”. 

Para o ex-ministro, o câmbio em 1,50 real/dólar estava errado e 2,00 está ligeiramente abaixo do que sua intuição diz que é. “É ilusão achar que podemos determinar o câmbio, só poderemos quando a taxa de juros interna for igual à externa”, afirmou. Segundo Delfim Netto, para resolver essa situação é necessário modelar os salários reais ao aumento da produtividade real do trabalho e equilibrar taxa de juros interna e externa.

O ex-ministro afirmou que, no passado, o país exagerou na dose na valorização cambial. “O efeito devastador de uma política de câmbio sobrevalorizada durante muito anos é terrível, no nosso caso, ela prejudicou o setor industrial, porque o agrícola é muito sofisticado”, disse Delfim Netto.  Para o ex-ministro, a taxa de 2,00 real/dólar, provavelmente, é melhor que a de 1,50. “Se é suficiente ou não nós só vamos ver lá na frente”, disse.

A melhor previsão do câmbio de amanhã é o câmbio de hoje, segundo o ex-ministro. Delfim Netto citou um estudo da FGV que aponta o câmbio de 2,67 reais como ponto de equilíbrio para a competitividade de empresas nacionais e disse que esse é um modelo sem muito sentido, uma vez que a taxa de 2,00 real/dólar seria melhor que a de 1,50 para as exportações, da mesma forma que a de 2,20 daria mais possibilidades que a de 2,00 e a de 2,50 ainda mais. O ex-Ministro da Fazenda afirmou que há três preços fundamentais (salário real, câmbio real e juro real) e não é possível realmente saber quando eles estão em equilíbrio. 

Maílson da Nóbrega, sócio da consultoria Tendências e também ex-ministro da Fazenda concorda que é impossível determinar qual é o ponto de equilíbrio. “Além de o governo ter uma banda informal, o Ministro da Fazenda sugeriu uma novidade, a flutuação só para cima”, disse. Para Maílson, hoje, o Brasil não permite que o câmbio caia a menos de 2 reais por dólar, tampouco suba acima de 2,50. 


Para Maílson, um dos problemas dessa intervenção no câmbio pode ser visto agora, com o impacto da seca nos Estados Unidos na inflação brasileira.  “O impacto da seca nos EUA tende a ser muito maior na inflação brasileira que seria se o câmbio fosse flutuante. Agora os preços de soja, milho e trigo sobem e isso tende a ser transferido para os preços porque a taxa de câmbio não neutraliza esse efeito”, afirmou. 

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, afirmou ontem que a taxa da câmbio atual (2,03 ontem e hoje) ainda é muito apreciada e que, caso ocorresse uma apreciação do câmbio, o governo tomaria as medidas necessárias. Barbosa citou a possibilidade de ocorrer uma apreciação do real em decorrência do “quantitative easing 3” (QE3), anunciado na última semana pelo Fed. 

Para Maílson da Nóbrega esse é um dos casos em que é legítima a intervenção no câmbio. “O governo, ao invés de criticar a ação do Fed, deveria comemorar porque ele está agindo para evitar que a crise jogue a economia americana numa recessão profunda e até na depressão. Ao criticar parece que preferimos que eles não façam nada. O efeito no Brasil seria até pior”, disse.  

Delfim Netto e Maílson da Nóbrega participaram do Seminário de Crédito, organizado pela XYZ e realizado hoje, em São Paulo.

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