Economia

Câmara Brasil-Argentina defende que relação bilateral vá além do Mercosul

O presidente da Camarbra, Federico Servideo, disse que pelo perfil dos dois presidentes, a relação pode ter mais peso do que o bloco

Até setembro deste ano, a corrente de comércio entre os países foi de 20,5 bilhões de dólares e quase 93% dos produtos exportados do Brasil para a Argentina e mais de 76% dos produtos exportados da Argentina para o Brasil foram bens manufaturados. (Paulo Whitaker/Reuters)

Até setembro deste ano, a corrente de comércio entre os países foi de 20,5 bilhões de dólares e quase 93% dos produtos exportados do Brasil para a Argentina e mais de 76% dos produtos exportados da Argentina para o Brasil foram bens manufaturados. (Paulo Whitaker/Reuters)

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Clara Cerioni

Publicado em 7 de novembro de 2018 às 14h48.

São Paulo – A relação comercial entre Brasil e Argentina está sendo colocada na balança, mas pode ganhar força mesmo com um Mercosul mais fraco.

A avaliação foi dada por Federico Servideo, sócio da PwC Brasil e presidente da Câmara de Comércio Argentino Brasileira (Camarbra), durante jantar em comemoração à relação binacional nesta terça-feira (6) em São Paulo.

O futuro superministro da economia do governo Jair Bolsonaro, Paulo Guedes, causou alarme em Buenos Aires ao declarar que o Mercosul é restritivo e que “o Brasil ficou prisioneiro de alianças ideológicas e isso é ruim para a economia.”

Mas para Servideo, as declarações fazem sentido: ele diz que os dois países ideologizaram muito o Mercosul e não firmaram uma agenda mais convergente para o bloco.

“É um bom momento para se discutir o fortalecimento dessa relação bilateral na velocidade que os países precisam. É necessário que se pense em uma integração produtiva maior, principalmente, entre setores fundamentais para os dois países. Hoje, as duas economias são muito fechadas, não existe essa integração, por isso, faz sentido pensarmos numa relação comercial mais adulta”, afirmou.

Servideo diz que no caso da Argentina, o comércio bilateral tem que ser repensado, mas que pelo perfil dos dois presidentes a relação pode ter mais peso do que o Mercosul.

“A Argentina tem que torcer para o Brasil sair da recessão, para o Brasil dar certo. O inverso não é verdadeiro”. Isso porque boa parte das exportações argentinas tem como o destino o mercado brasileiro.

A corrente de comércio entre Brasil e Argentina em 2017 somou 27 bilhões de dólares, revertendo uma sequência de três anos consecutivos de queda.

Entre janeiro e setembro deste ano, a alta é de 3,2%, com fluxo de 20,5 bilhões de dólares, divididos entre 8,2 bilhões de dólares da Argentina para o Brasil e 12,3 bilhões de dólares do Brasil para a Argentina, de acordo com os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

“A Argentina é o terceiro maior destino das exportações brasileiras, assim como o Brasil também é o terceiro mercado para os produtos argentinos, e a maior parte dessa corrente de comércio é de produtos manufaturados”, ressaltou o executivo.

No ano passado, segundo dados da Secex, quase 93% dos produtos exportados do Brasil para a Argentina e mais de 76% dos produtos exportados da Argentina para o Brasil foram bens manufaturados.

Hoje, por ter um acordo bilateral, o setor automotivo é o único que trabalha de forma mais integrada a sua produção. Montadoras e autopeças mantêm unidades fabris tanto no Brasil como na Argentina.

“A agroindústria e o setor de serviços, como comércio eletrônico, tem muito a ganhar com essa integração, porque são os maiores mercados da América do Sul e não podem ser desprezados. Mas, os governos também têm que pensar essa integração mais forte para que as empresas repensem os seus negócios”, disse Servideo.

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