Candidatas preenchem inscrições em uma feira de emprego no Rio de Janeiro (foto de arquivo, tirada antes da pandemia) (Dado Galdieri/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 29 de junho de 2020 às 14h59.
Última atualização em 29 de junho de 2020 às 17h40.
Sob o efeito da pandemia de covid-19, o Brasil registrou 1.035.822 demissões de vagas formais em maio, segundo dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta segunda-feira (29) pelo Ministério da Economia.
Diante de 703.921 contratações no mesmo mês, o saldo ficou negativo em 331.901 empregos, no pior resultado para maio desde o começo da série histórica, iniciada em 2010.
No acumulado de janeiro a maio, o saldo ficou negativo em 1.144.875.
Os números mostram que a deterioração do mercado formal em maio foi consideravelmente menor do que a registrada em abril, considerado por economistas o pior mês da crise, e quando a perda líquida do mercado formal foi de 860 mil vagas.
Já no mês de março, que teve só uma parte mais prejudicada pela pandemia, com o fechamento do comércio não essencial decretado depois do iníco da segunda quinzena, o saldo de postos formais perdidos foi de 240 mil.
Em coletiva de imprensa, o secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, disse que o número de desligamentos não é o fator que faz com que o saldo seja negativo, e sim, a queda na quantidade de admissões que, num cenário sem crise, superaria as demissões, gerando assim um saldo positivo.
"Ainda que número de admissões em maio tenha sido menor em relação ao ano passado (48%), registramos aumento de 14% nas contratações ante abril, o que mostra que começamos a ver reação das empresas, que não estão demitindo no mesmo ritmo e, portanto, mais confiantes na reabertura", diz.
Quatro dos cinco grupos de atividades econômicas mostraram desempenho negativo em maio, com destaque para serviços, com fechamento líquido de 143.479 vagas.
Também ficaram no vermelho a indústria geral (-96.912), o segmento de comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (-88.739 postos) e o setor da construção (-18.758).
Por outro lado, o grupo agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura foi responsável pela abertura de 15.993 vagas no período.
"O primeiro ponto a se enfatizar é a clara reação do mercado de trabalho, a clara melhora da economia e a clara melhora dos números relativos ao emprego no Brasil", disse Bianco, numa análise comparativa a abril.
O secretário destaca ainda o papel que vêm desempenhando os programas de ajuda às empresas para o pagamento da folha dos funcionários e, consequentemente, na manutenção de emprego no país.
Segundo ele, já são 11,8 milhões de acordos de redução de jornada e salário e de suspensão de contratos firmados entre empresas e funcionários desde o início da crise. Os acordos totalizam uma ajuda de R$ 18 bilhões a 1,4 milhão de empregadores.
Apesar dos acordos, ainda há baixa adesão ao programa, que prevê ajuda de R$ 40 bilhões dos cofres públicos. Os números refletem a dificuldade dos negócios menores para acessar esse dinheiro, já que dependem da aprovação de instituições financeiras.
Como, normalmente, o mercado de trabalho é o último a se recuperar de uma crise, quedas no saldo de empregos são esperadas até o fim do ano.
Dada a expectativa de retomada econômica em ritmo lento, as taxas dedesemprego podem chegar rondar 18% em dezembro, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre FGV).
A expectativa atual do Instituto está em 18,7%, mas esse número deve ser revisto para baixo amanhã (30), após a divulgação da taxa oficial de desoupação de maio, pelo IBGE.
O indicador leva em consideração números da pesquisa Pnad Continua e, diferentemente do Caged, trazem também a situação do emprego para o setor informal, numa análise mais ampla do mercado de trabalho.
"Notamos que a jornada média vai compensar boa parte da queda de atividade", diz Daniel Duque, pesquisador da área de Economia Aplicada do Instituto. Em outras palavras, o economista nota que o programa do governo de ajuda à folha evitou uma queda maior do desemprego. Além disso, "os informais também estão trabalhando menos", diz.
(Com colaboração de Alex Halpern e informações da Reuters)