Pedestres de máscaras protetoras andam na Rua Alfândega, no Rio de Janeiro, 23 de julho de 2020. (Andre Coelho/Bloomberg)
Ligia Tuon
Publicado em 28 de julho de 2020 às 10h41.
Última atualização em 28 de julho de 2020 às 19h17.
O mercado de trabalho formal segue reagindo em meio à crise do coronavírus, após registrar expressiva queda no saldo de vagas em abril e uma modesta recuperação em maio.
O Brasil registrou 906.444 demissões de vagas formais em junho, segundo dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta terça-feira (28) pelo Ministério da Economia.
Diante de 895.460 contratações no mesmo mês, o saldo ficou negativo em 10.984 empregos. O resultado surpreendeu o mercado, que esperava um número pior.
A projeção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), por exemplo, era de saldo negativo de 220 mil vagas.
A agropecuária foi o setor com o melhor desempenho, com a abertura de 36.836 novas vagas, seguido pela construção civil, que registrou um saldo positivo de 17.270 postos de trabalho.
Em maio, o saldo havia ficado negativo em 350.303, no pior resultado para aquele mês desde o começo da série histórica, iniciada em 2010.
No acumulado do ano até agora, considerando o primeiro semestre fechado, o saldo do emprego formal ficou negativo em 1.198.363, resultado de 6.718.276 admissões e 7.916.639 desligamentos.
Os números mostram que a deterioração do mercado formal vem se suavizando desde abril, o pior mês da crise, e quando a perda líquida do mercado formal foi de 918.286 vagas.
Em coletiva de imprensa após o anúncio, o secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, destacou o crescimento significativo nas admissões, na ordem de 24% ante maio. Na mesma comparação, os desligamentos tiveram uma queda de quase 16%.
"A reação do mercado de trabalho mostra que uma recuperação em “V” (mais rápida) é possível, como o ministro Guedes tem dito", diz Bianco.
Na comparado com os meses anteriores, a melhora do mercado formal é clara, segundo o professor de economia da Fipecafi, Samuel Durso.
No entanto, ainda estamos muito distantes dos resultados positivos do Caged: "É uma recuperação, mas ainda tem muito chão pela frente em termos de melhoria econômica de uma forma geral", diz.
Durso ressalta que o governo ainda precisa definir com mais clareza como será feita a manutenção do nível de emprego após o término do prazo dos programas sociais.
O Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, anunciado no fim de março pelo governo para auxiliar empresas no custeio da folha de pagamento e permitir a redução de salários e da jornada, foi prorrogado por mais dois meses.
Segundo o secretário, o número de empresas que adeiraram já passou de 15 milhões. Quando esse prazo terminar, porém, não há garantias que o cenário vá continuar melhorando, explica o professor:
"Essas medidas foram importantes para fazer as empresas segurarem ao máximo as demissões, porém, se a recuperação econômica não for tão rápida quanto se espera, pode ser que haja mais demissões depois do encerramento da política", diz Durso.
Questionada sobre quando espera que os números do mercado formal voltem aos níveis pré-crise, a equipe econômica diz que não faz projeções, mas que está acompanhando "com lupa" os movimentos no mercado: "por isso que vamos dosando as políticas e a cada momento fazendo novas divulgações e análises", diz Bianco.
O secretário disse que também já estão em análise as consequências da queda das medidas de emergência. Disse ainda que, em breve, o governo espera divulgar "medidas importantes para o incremento dos empregos", o que pode continuar beneficiando o mercado no longo prazo.
Uma das intenções do ministro Paulo Guedes é desonerar a folha de pagamento das empresas na segunda fase da reforma tributária, em debate no Congresso Nacional.
Comércio e serviços lideram a utilização dos instrumentos especiais da crise, com serviços respondendo por quase metade dos acordos, segundo o Ministério da Economia.
Esses setores, muito atingidos pela necessidade de isolamento social, também lideram o número de demissões, com saldos negativos de 16.646 e 44.891 vagas, respectivamente.
Os estados com maior saldo positivo foram Mato Grosso (+6.790 / +0,95%); Pará (+4.550 /+0,63%) e Goiá (+4.334 / +0,36%). Já os saldos negativos foram para Rio de Janeiro (-16.801 /-0,54%);
São Paulo (-13.299/-0,11%) e Rio Grande do Sul (-4.851/-0,20%).