Economia

Apresentado por ABIC

Café: um setor anticrise

Mesmo com a recessão econômica do país, o segmento continua em expansão e deve crescer até 25% nos próximos dez anos

Em 2017, o setor cafeeiro cresceu 3,5% em relação ao ano anterior, fazendo o segmento atingir 22 milhões de sacas, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) (nimon_t/Getty Images)

Em 2017, o setor cafeeiro cresceu 3,5% em relação ao ano anterior, fazendo o segmento atingir 22 milhões de sacas, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) (nimon_t/Getty Images)

O café está para a xícara de grande parte dos brasileiros assim como o arroz e o feijão estão para o prato do almoço e do jantar. Uma pesquisa da consultoria Euromonitor mostra bem isso: 80% dos lares do país possuem café em seus armários ou despensas. E mesmo em períodos de crise econômica, o consumo do grão não caiu por aqui. Muito pelo contrário. Em 2017, houve aumento de 3,5% em relação ao ano anterior, o que fez o setor atingir 22 milhões de sacas, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). O crescimento equivale ao dobro do registrado pelo mercado mundial e representou para o setor um faturamento de 21,1 bilhões de reais no ano passado.

Mais do que um crescimento de produção pontual, os números mostram que o setor cafeeiro pode e deve se programar para voos mais altos. É o que defende Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e coordenador de agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV), em um estudo sobre o setor divulgado recentemente. De acordo com a análise, nos próximos dez anos o mercado deve crescer 25%. Já em 2018, a expectativa é um aumento de mais de 3% na produção. “Há uma relevância cultural muito grande do café para os brasileiros”, afirma Angelica Salado, analista sênior de pesquisa da Euromonitor International.

De fato, não só no aspecto do consumo, a história do café tem total relação com o próprio desenvolvimento do Brasil. Apesar de ter começado a ser cultivado em 1727, no Pará, pelo militar português Francisco de Melo Palheta, foi somente no século 19 que o grão se tornou a potência atual no país. Até o início do século 20, o café era o principal produto de exportação do Brasil. Mas, mesmo com as raízes históricas, o seu consumo por aqui vem mudando bastante. E o motor do crescimento está sendo os grãos especiais.

Um estudo elaborado pela Euromonitor sobre o potencial do segmento e o que ele pode representar para os produtores mostra que, a cada ano, o crescimento tem sido superior aos 20%. Em valores, o último dado divulgado foi o de 2016 – e demonstrou que esse segmento movimentou por volta de 1,7 bilhão de reais tanto em supermercados quanto em cafeterias e restaurantes.

O setor de cápsulas também é outro que registra diversos saltos no consumo. De 2012 a 2017, esse mercado cresceu mais de dez vezes e chegou a movimentar 2,9 bilhões de reais. E a expectativa é que esse número dobre nos próximos cinco anos. “A grande oportunidade do mercado está no aumento da qualidade dos grãos”, diz Carlos Augusto Rodrigues de Melo, vice-presidente da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé).

Mais qualidade

Por muito tempo, o café brasileiro foi visto como inferior em qualidade em comparação a grãos de outros países, como a Colômbia, por exemplo. Tal percepção tem mudado cada vez mais, principalmente com o avanço das categorias chamadas premium. “Havia essa visão de que o nosso café era fraco quando comparado a outros, mas é algo que não acontece mais. Nosso produto sempre teve qualidade”, diz ele. “O que precisamos mais é de marketing.”

O representante da cooperativa dá o próprio exemplo para mostrar o avanço dos cafés de maior valor agregado na agenda dos produtores. Ele possui uma produção de cerca de 12 000 sacas de café a cada dois anos, o que o coloca no patamar de um produtor de médio porte. Nas últimas colheitas, apostou mais nos cafés especiais, visando valores mais recheados na conta na entrega dos produtos. Se antes representavam traço, os cafés especiais agora equivalem a 20% do total de sua produção. “O café sempre será um produto desejado e as pessoas não deixarão de consumi-lo”, diz Melo.

O café do Brasil é um dos mais sustentáveis no mundo (Bartosz Hadyniak/Getty Images)

O que pode mudar, no entanto, é a forma de consumir. Um exemplo é o café gelado, comum em nações da Europa e da América do Norte e que ainda patina por aqui, mesmo o Brasil sendo um país tropical. É algo em que as empresas investem para mudar: desde cápsulas especialmente produzidas para ser consumidas geladas estão sendo lançadas até cafeterias apostando em bebidas à base de café com adendos como chantilly, chocolate e, claro, bastante gelo. “Se 2016 foi um ano de estagnação em termos de lançamentos, no ano passado as empresas se recuperaram e apostaram em inovação”, diz Angélica, da Euromonitor.

E por trás de toda a inovação está o legítimo café brasileiro. Atenta a esse cenário de mudanças e busca por mais qualidade, a Abic lançou um mecanismo para ajudar a população a entender o produto que está consumindo e, assim, ter mais propriedade na hora de escolher qual café comprar. Para isso, contratou um time de especialistas treinados em laboratórios para avaliar a qualidade do café comercializado no país. A categoria do café é determinada de acordo com a nota de Qualidade Global (QG), que varia numa escala de 0 a 10 – tendo o mínimo de qualidade em 4,5. Nesse sentido, são divididas entre cafés tradicionais ou extraforte, que possuem notas de QG entre 4,5 e 5,9; cafés superiores, que vão de 6 a 7,2; e cafés gourmet, que têm pontuação de 7,3 a 10. A iniciativa da Abic é a única no mundo e ajuda a garantir que os produtos comercializados nacionalmente tenham cada vez mais qualidade.

Acompanhe tudo sobre:AgronegócioCaféCrescimento econômicoCrises em empresaseconomia-brasileiraSustentabilidade

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo