Grãos de café são selecionados perto de Varginha, Minas Gerais: consultoria já vê uma migração do café plantado nas montanhas para áreas com topografia mais favorável (Mauricio Lima/AFP)
Da Redação
Publicado em 17 de abril de 2014 às 17h25.
São Paulo - Os cafezais de montanha de Minas Gerais, que respondem por importante parcela da produção brasileira, tendem a desaparecer do mapa de cultivo do país em uma ou duas décadas, por custos elevados associados à impossibilidade da colheita mecanizada nas áreas de aclive, onde inclusive as fazendas estão perdendo valor de mercado.
A avaliação é da consultoria Informa Economics FNP, que já vê uma migração do café plantado nas montanhas para áreas com topografia mais favorável, que permitem a redução de custos com a mão de obra por meio da mecanização da colheita.
"Essas regiões, em 10 a 20 anos, terão a produção reduzida a quase a zero, e outras regiões vão crescer e compensar esse processo", disse à Reuters o diretor técnico da Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz.
Entre as áreas com possibilidade de receber o café que deixará de ser cultivado nas montanhas está o oeste da Bahia, disse o especialista, ressaltando que a mecanização também exige a escala de grandes propriedades para viabilizar o cultivo.
O café das áreas com relevo mais acidentado poderá ser substituído pela pecuária leiteira, por exemplo, citou o analista, observando que a avicultura e a suinocultura também seriam possibilidades.
"Esse processo de substituição (da atividade) já está ocorrendo e vai ocorrer nos próximos anos, à medida que esse processo vai se agravar...", disse Ferraz, citando uma tendência global de escassez de mão de obra no campo, com a população mais jovem buscando viver nos centros urbanos.
As despesas com mão de obra na cafeicultura, especialmente para a colheita, representam mais de 60 por cento dos custos totais da atividade, impactando diretamente nas margens dos produtores que cultivam café nas montanhas.
Minas Gerais, maior Estado produtor do Brasil, cultiva mais da metade dos cafezais em terras com topografia desfavorável à colheita mecanizada.
O Estado responde por cerca de metade da produção de café do Brasil, que é o maior produtor e exportador global da commodity.
Preços das Terras
Como reflexo das margens de lucro mais baixas, em especial nas áreas de montanha, as terras de café em Minas Gerais têm registrado uma valorização bem abaixo da média nacional, segundo estudo da Informa Economics FNP, que realiza um dos mais completos levantamentos sobre preços das áreas agrícolas no Brasil.
Enquanto o preço médio de terras agrícolas em geral em Minas registrou alta de 19 por cento no período de 36 meses até março deste ano, o valor das áreas de café do Estado tiveram valorização no mesmo período de 13 por cento.
No período mais curto, de 12 meses, a alta para fazendas de café é de apenas 4 por cento, contra 15 por cento da média das terras em geral em Minas e ante 13 por cento da média nacional.
A situação em regiões montanhosas é ainda mais aguda.
Um exemplo é a região de Alfenas, Guaxupé e Varginha, onde os preços das terras de café caíram 10 por cento em 12 meses.
"Essas áreas (de café de montanha) não têm essa possibilidade de ter colheita mecânica, e por total falta de mão de obra, essas terras acabam sendo prejudicadas na sua valorização. A cultura tende a render cada vez menos, e os preços das terras refletem o retorno que se pode obter com a sua exploração", disse Ferraz.
Segundo o especialista, a tendência de preços de café é ascendente, mas o retorno é descendente para os produtores de áreas de montanha, "por conta do fator da mão de obra, cujos custos estão explodindo".