Brasil: o surto de coronavírus afetou a economia (Moriyama/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 4 de março de 2020 às 17h13.
Última atualização em 4 de março de 2020 às 18h15.
São Paulo — O BTG Pactual (parte do grupo controlador de EXAME), cortou sua previsão para o crescimento da economia brasileira em 2020 de 2,2% a 1,4%. Em relatório divulgado nesta quarta-feira (04), a instituição cita o fraco desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, revelado nesta manhã pelo IBGE, e os riscos associados ao avanço do surto de coronavírus no mundo.
A expectativa do banco para o PIB do primeiro trimestre deste ano também foi rebaixada de um resultado positivo em 0,3% para uma queda de 0,1%. O movimento, segundo o relatório, incorpora o menor crescimento global ligado à epidemia que começou em dezembro na China, o que também pode ter um impacto negativo no final do primeiro e do segundo trimestre.
"O crescimento do PIB no quarto trimestre estava alinhado com nossa expectativa, mas a demanda doméstica veio mais fraca do que o esperado", diz o relatório.
O crescimento da economia brasileira desacelerou para 0,5% no quarto trimestre de 2019 ante alta de 0,6% registrada de julho a setembro. O resultado reforça a retomada ainda modesta da economia, após as quedas fortes do PIB de 3,5% em 2015 e 3,3% em 2016.
O consumo das famílias, que cresceu 0,5% no quarto trimestre ante o período imediatamente anterior, foi penalizado pelo pico de inflação registrado em novembro e dezembro devido, sobretudo, aos preços da carne.
Apesar do cenário preocupante no curto prazo, o BTG acredita que o choque causado pelo coronavírus se dissipará no segundo semestre, principalmente com a possibilidade de maior flexibilização pelos bancos centrais. Além disso, a expectativa é de que o emprego continue subindo, ainda que lentamente, e que haja maior oferta de crédito.
"Ainda é muito cedo para avaliar o tamanho e a duração do impacto do coronavírus no crescimento global e doméstico; portanto, os riscos para nossa previsão permanecem inclinados para o lado negativo", diz o relatório.
Junto aos dados decepcionantes de atividade no fim de 2019, o avanço do surto tem gerado uma onda de corte das previsões de crescimento brasileiro neste ano. Só nas últimas duas semanas os bancos Safra, Barclay, Goldman Sachs, Citibank, BNP Paribas e MUFG Brasil revisaram para baixo as suas estimativas, se somando a um grupo que já contava com UBS, JP Morgan e Santander.
A tendência também apareceu no último Boletim Focus, pesquisa semanal realizada pelo Banco Central para medir as expectativas do mercado, onde a projeção para o PIB este ano foi de 2,23% para 2,20%.
O medo é que se repita o fenômeno que vem desde 2017, com as projeções começando o ano perto de 2% e depois sendo cortadas sucessivamente até o patamar de 1%.
Com o aumento da pressão para que os bancos centrais coloquem em ação suas ferramentar de política monetária para conter os efeitos do avanço da epidemia, uma série de anúncios de cortes de juros vem sendo anunciada.
Na terça-feira, o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, surpreendeu o mercado com um corte de emergência. O movimento veio antes mesmo da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) de 17 a 18 de março.
A decisão antecipada foi unânime entre os formuladores de política monetária e reflete a urgência com a qual a autoridade sente que precisa agir para evitar a possibilidade de uma recessão global.
No mesmo dia, para acalmar os ânimos no Brasil, o BC divulgou uma nota dizendo que monitora atentamente os impactos do surto e que as próximas duas semanas permitirão uma avaliação mais precisa dos efeitos na economia. A mensagem foi interpretada por parte do mercado como uma sinalização de um novo corte na Selic na reunião do dia 18, mesmo com o fato de a autoridade ter sinalizado em dezembro que encerraria o ciclo de afrouxamento.
O corte mais recente foi no Canadá, anunciado nesta quarta-feira pelo banco central do país (BoC, na sigla em inglês). A autoridade disse ainda que cogita um novo corte, se necessário, para apoiar o crescimento econômico.
A medida marcou a primeira vez em quase cinco anos que o Banco do Canadá diminuiu o juro. A última vez havia sido em março de 2009, quando o banco reduziu a taxa em 50 pontos-base, durante a crise financeira global.
No início desta semana, Christiane Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), também reiterou que a instituição está pronta para tomar “medidas apropriadas e direcionadas” para combater o impacto econômico do surto. Mais cedo neste mês, ela sinalizou que os governos precisam intervir com apoio fiscal para complementar os efeitos da política monetária.