Bandeira do Chipre: na proposta que está sendo negociada com a Eurocâmara "não se exclui que os depósitos acima de 100 mil euros possam ser instrumentos usados para o resgate interno". (REUTERS/Yorgos Karahalis)
Da Redação
Publicado em 26 de março de 2013 às 15h29.
Bruxelas - A Comissão Europeia afirmou nesta terça-feira que a fórmula estipulada no resgate do Chipre é "única", embora tenha admitido que as poupanças superiores a 100 mil euros podem ser taxadas para financiar futuros planos de ajuda caso sua proposta sobre o sistema bancário for aprovada.
"O caso do Chipre é único por muitas razões, é uma situação extraordinária e se encontrou uma solução apropriada para o caso específico cipriota", disse hoje a porta-voz de Mercado Interno e Serviços da Comissão, Chantal Hughes.
A funcionária descartou que as mesmas "circunstâncias" do Chipre voltem a ocorrer em outras nações e por isso estas medidas não precisariam ser aplicadas em outras economias. Para Chantal, a fórmula utilizada na ilha não é um "modelo perfeito para ser utilizado da mesma forma no futuro".
A porta-voz lembrou que a comissão já propôs que o contribuinte não tenha que pagar pela crise dos bancos. Neste sentido, destacou a importância de iniciar o mecanismo supervisor único bancário para a zona do euro, que permitirá reforçar o controle sobre as entidades financeiras.
Chantal Hughes também disse que é preciso chegar a um acordo com o Parlamento Europeu sobre a lei proposta em junho pela comissão sobre o setor bancário, que prevê o resgate interno para recapitalizar os bancos.
Nesta proposta, "em nenhum caso existe a possibilidade de incluir depósitos inferiores a 100 mil euros, nem agora nem no futuro. Em nenhum momento é possível" que estes investidores precisem assumir perdas para salvar um banco, garantiu.
No entanto, na proposta que está sendo negociada com a Eurocâmara "não se exclui que os depósitos acima de 100 mil euros possam ser instrumentos usados para o resgate interno".
O ministro das Finanças do Chipre, Michalis Sarris, confirmou hoje à emissora pública britânica "BBC" que o corte aplicado nos depósitos superiores aos 100.000 euros sem seu país poderia ser de 40%.
Bruxelas se apressa agora para virar a página, dissipar as tensões qcausadas pelo confisco e relaxar sua postura com Nicósia após meses de discussões, uma crescente incerteza entre os investidores e cidadãos cipriotas e uma estratégia de comunicação considerada infeliz.
As declarações do presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, que davam a entender que a fórmula pactuada no resgate do Chipre poderia servir como receita para outros países, causaram preocupação nas bolsas europeias.
A Bolsa de Madri registrou ontem sua quarta maior queda do ano, de 2,27%, e nesta terça-feira teve baixa de 1,84%. Já a Bolsa de Atenas sofreu hoje uma queda de 4,90%.
Dijsselbloem disse também que a zona do euro deveria ter como objetivo "uma situação na qual nunca teremos que considerar a recapitalização direta". Além disso, o presidente do Eurogrupo afirmou que a necessidade de uma injeção de capital via fundo europeu de resgate se reduzirá cada vez mais com o uso de instrumentos de resgate interno dos bancos.
"Desejar que o uso deste instrumento (de recapitalização direta) não seja necessário não quer dizer que um acordo para torná-lo possível não seja algo em que sigamos trabalhando", afirmou o porta-voz de Assuntos Econômicos e Monetários da Comissão Europeia, Simon O"Connor.
A polêmica causada por Dijsselbloem fez com que O"Connor explicasse ontem que o Chipre é um "caso específico com desafios excepcionais que necessitavam as medidas de participação do setor privado", que os resgates "estão feitos sob medida para a situação do país em questão" e que não são usados modelos definidos.