Economia

Briga da Argentina com credores tem tudo para ser pior do que a última

O governo do presidente Alberto Fernández, que tomou posse na terça-feira, assume uma economia prestes a registrar recessão pelo terceiro ano

Carmen Reinhart: para economista de Harvard, país começa batalha em posição mais frágil do que entrou (Andrew Harrer/Bloomberg)

Carmen Reinhart: para economista de Harvard, país começa batalha em posição mais frágil do que entrou (Andrew Harrer/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 16 de dezembro de 2019 às 11h11.

A Argentina pode ter que enfrentar uma batalha com credores ainda mais desagradável do que a saga de 15 anos iniciada em 2001, segundo Carmen Reinhart.

Na verdade, a economista da Universidade Harvard diz que o país começa a batalha em posição mais frágil do que durante seu drama anterior de default da dívida. A taxa de inflação é mais alta, os preços das commodities estão mais baixos e o estoque da dívida é mais complexo.

Ao mesmo tempo, o país parece mais uma vez sem acesso ao mercado de capitais, o que significa que o Fundo Monetário Internacional provavelmente não oferecerá novos financiamentos.

“Acho que estão em pior situação”, disse Reinhart, que foi diretora-adjunta do departamento de pesquisa do FMI durante a crise da Argentina em 2001. “Naquela época, eles tiveram sorte com as commodities, as receitas do governo e capacidade de gerar dólares. Não acho que terão tanta sorte desta vez.”

O governo do presidente Alberto Fernández, que tomou posse na terça-feira, já enfrenta um teste depois de sinalizar que pretende iniciar as conversas com credores para adiar o pagamento da dívida.

No mês que vem, a província de Buenos Aires, que abriga de 40% da população do país, precisa pagar cerca de US$ 571 milhões aos detentores de títulos. Reinhart disse que o governo federal não tem condições de resgatar a província, e é apenas uma questão de tempo até que o país deixe de pagar a dívida externa.

Fernández assume uma economia prestes a registrar recessão pelo terceiro ano. O desemprego está acima de 10%, e a inflação anual ultrapassa 50%. Os títulos em dólares do país com vencimento em 2028 valem apenas 42 centavos de dólar, refletindo a expectativa de investidores de um default.

Segundo a estimativa de Reinhart, os investidores devem esperar recuperar no máximo 50% de suas posições, um desconto maior do que em recentes reestruturações de dívida.

Uma diferença em relação ao default de 2001 é o uso de cláusulas de ação coletiva. Na época, os títulos do país não tinham regras que obrigavam os investidores a aceitarem um acordo se uma maioria qualificada de credores concordasse. Isso criou a classe dos chamados “holdouts” que ficaram de fora quando o país fechou um acordo com credores de cerca de 93% da dívida.

Ainda assim, Reinhart disse que a variedade de títulos argentinos em circulação - de lei local e estrangeira e títulos atrelados à taxa básica de juros e ao PIB - aumenta a probabilidade de credores recusarem a reestruturação.

“Parece que eles não aprenderam nada com a última experiência”, disse.

Acompanhe tudo sobre:Alberto FernándezArgentinaCrise econômicaFMIPIB

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo