Bandeiras da Grécia: a Rússia quer que a Grécia seja o sexto país-membro do banco do BRICS (Kostas Tsironis/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 14 de maio de 2015 às 19h59.
Depois de ter conseguido juntar os 750 milhões de euros (US$ 845 milhões) que deve ao FMI e ficar com dinheiro suficiente para algumas semanas nas contas, a Grécia foi convidada a se entrar em um clube cuja taxa de inscrição custa bilhões.
Atenas revelou nesta semana que a Rússia quer que a Grécia seja o sexto país-membro do banco do BRICS. Para Jim O’Neill, isso não passa de uma piada atrasada do Dia da Mentira.
Ele é o ex-economista do Goldman Sachs Group Inc. que cunhou em 2001o termo “BRIC” – para designar Brasil, Rússia, Índia e China –. A África do Sul foi convidada depois pelos outros países a se unir.
No ano passado, eles montaram um banco de desenvolvimento para rivalizar com o FMI. A instituição terá um capital autorizado de US$ 100 bilhões, e cada membro fundador contribuirá com US$ 10 bilhões.
Então, o que está acontecendo? Não há dúvida de que a Grécia, cuja economia se contraiu em cerca de um quarto desde que ficou sob a tutela da zona do euro, não se encaixa exatamente na visão esboçada por O’Neill para destacar o crescente peso econômico dos países em desenvolvimento.
Uma previsão feita por ele no livro “O Mapa Do Crescimento”, de 2011, foi que as economias do Bric superariam em tamanho a dos EUA neste ano, embora ele tenha adiado posteriormente essa previsão para 2017.
Segundo sua perspectiva, o grupo será do tamanho do G7 até 2035.
Alavancagem grega
Portanto, é quase certo que o convite seja geopolítico. Reforçar os laços com o leste é um dos poucos pontos de alavancagem do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, com seus credores.
Panagiotis Roumeliotis, ex-representante da Grécia no FMI, foi nomeado para explorar a possibilidade de se unir ao banco do BRICS.
Tsipras e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, se reuniram em Moscou no mês passado, e depois a Rússia garantiu o envio de gás para o mercado europeu através da Grécia em cinco anos, com a possibilidade de fazer um pagamento adiantado das taxas de trânsito. Em troca, Putin ganha um aliado que já é país-membro da OTAN e enfraquece a frente opositora às políticas em relação à Ucrânia.
Em Moscou, o Ministério da Economia não respondeu a vários pedidos de comentários feitos por telefone. Em Atenas, um porta-voz do Ministério da Economia não quis comentar.
Para O’Neill, a questão é o que os outros países-membros vão ganhar com isso.
“É o Dia da Mentira?”, disse ele por e-mail. “Entendo por que a Rússia teria esse estranho desejo, mas não consigo imaginar por que os outros concordariam”.