Brexit: uma peça foi retirada do quebra-cabeças europeu e as consequências são graves (Thinkstock/CharlieAJA)
João Pedro Caleiro
Publicado em 27 de junho de 2016 às 14h36.
São Paulo - O divórcio do Reino Unido da União Europeia nem começou oficialmente e já promete ser "confuso, caro e prolongado", de acordo com a BlackRock, maior empresa de gestão de ativos do mundo.
O país ainda precisa disparar o artigo 50 e a partir daí começam longas negociações sobre os termos de acesso ao mercado comum europeu e as relações com os países que tem acordos com a UE.
"Acho que a UE vai estar interessada em assegurar um comércio relativamente livre entre o Reino Unido e o continente, mas não acho que possam dar acesso total ao mercado comum sem exigir em troca uma contribuição para o Orçamento da UE e livre movimento de trabalhadores e esses são termos que o governo britânico não pode aceitar", diz Peter Hall, professor de Harvard, em entrevista para EXAME.com.
Tanta incerteza fez com que as bolsas europeias ampliassem as perdas nesta segunda-feira e a libra atingiu o menor nível em 31 anos. Os investidores vão fugir do risco e o Brasil também será afetado.
A Moody's cortou a perspectiva do rating do Reino Unido de "estável" para "negativa" e a Standard & Poor's advertiu que o país vai perder sua nota de crédito triplo A.
A BlackRock prevê que o euro vai se enfraquecer mais e que o Bank of England vai cortar os juros dos atuais 0,5% para zero, além de fazer um programa de expansão monetária para sustentar a economia, e outros bancos centrais também já estão reagindo.
Os economistas alertaram durante toda a campanha que a Brexit implicaria em custos importantes em termos de crescimento, fluxo de comércio e perda de protagonismo em setores como o financeiro.
Internamente, a renúncia do primeiro-ministro David Cameron inaugura a disputa pela liderança do Partido Conservador, agora dominado pela ala defensora da Brexit. No resto da Europa, o foco estará em impedir referendos similares.
"Esperamos que os líderes europeus foquem em afastar movimentos populistas internos reforçados pela Brexit e em prevenir que todo o edifício da União Europeia entre em colapso. Isso aponta para uma posição dura de negociação em relação ao Reino Unido e menos foco em reformas estruturais muito necessárias", diz a BlackRock.
Um problema a mais: como a maioria dos escoceses quer a permanência na União Europeia, um novo referendo de independência já está sendo articulado.
"Quero deixar absolutamente claro hoje que pretendo tomar todas as medidas possíveis e explorar todas as opções para efetivar o que o povo da Escócia votou, em outras palavras, para garantir nosso lugar na UE e em um mercado único", disse a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon.