Economia

Brasil vê oportunidades em políticas protecionistas de Trump

O ministro Marcos Pereira apontou para o México como um dos países que poderiam desenvolver relações comerciais mais fortes com o Brasil

Relações: "o Brasil até agora não está na mira de Trump. Creio que não haverá prejuízo para a indústria brasileira" (Getty Images)

Relações: "o Brasil até agora não está na mira de Trump. Creio que não haverá prejuízo para a indústria brasileira" (Getty Images)

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Reuters

Publicado em 26 de janeiro de 2017 às 20h46.

Última atualização em 26 de janeiro de 2017 às 20h59.

O Brasil tem a oportunidade de fortalecer os laços com países do Pacífico e da Europa se o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adotar políticas protecionistas, disse o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços na quinta-feira.

Em entrevista à Reuters, o ministro Marcos Pereira apontou para o México, um concorrente de longa data para o comércio e o investimento na América Latina, como um dos países que poderiam desenvolver relações comerciais mais fortes com o Brasil.

As tensões entre o México e os EUA aumentaram desde que Trump tomou posse, com o presidente norte-americano dizendo que pretende renegociar o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e construir um muro na fronteira EUA-México.

O presidente mexicano Enrique Pena Nieto, na quinta-feira, cancelou uma reunião planejada com Trump.

Pereira também disse esperar que o Chile e o Peru busquem se aproximar mais do Brasil e do Mercosul, bloco comercial sul-americano, agora que Trump retirou os Estados Unidos da Parceria Transpacífico.

Ele acrescentou que a chegada de Trump à Casa Branca levou a União Europeia a demonstrar maior interesse em concluir um acordo comercial com o Mercosul que está sendo discutido há 15 anos.

Ao mesmo tempo, Brasília espera que Trump não restrinja o comércio entre os EUA e o Brasil. Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, depois da China, e o maior mercado de seus produtos manufaturados, incluindo aviões comerciais.

"O Brasil até agora não está na mira de Trump. Creio que não haverá prejuízo para a indústria brasileira".

"Creio que nós teremos oportunidades de avançar com os EUA, mas também e sobretudo com aqueles países onde eles estão colocando impedimentos, como os países da aliança do Pacífico. Com a saída deles do TPP, acho queaumenta nossas chances de avançar com países como Peru e Chile."

O Brasil pode não estar no radar do Trump porque compra mais dos Estados Unidos do que vende lá, registrando um déficit de 646 milhões de dólares no ano passado, e não está atraindo investimentos que ameacem empregos nos EUA.

"Ano cheio"

Assolado pela pior recessão em um século, o Brasil está ansioso para expandir suas exportações e está pronto para agarrar oportunidades de comércio com os países que enfrentam retrocessos em seu acesso ao mercado dos EUA.

O comércio com o México, a maior economia da América Latina depois do Brasil, tem potencial para crescer à medida que a relação EUA-México se agrava.

"Vemos isto como uma oportunidade para ampliar nossas discussões comerciais, e espero que eles tenham a mesma visão. Seria bom para o Brasil mas sobretudo para eles porque quem está pressionado são eles", disse Pereira.

O ministro também saiu do Fórum Econômico Mundial em Davos na semana passada, convencido de que a UE está mais propensa do que nunca para chegar a um acordo com o Mercosul.

Segundo ele, um acordo poderia ser acertado politicamente no início do próximo ano, deixando questões espinhosas como a resistência francesa e irlandesa para reduzir as barreiras agrícolas a serem trabalhadas mais tarde.

O Brasil está em negociações de livre comércio com a Associação Europeia de Livre Comércio que agrupa Noruega, Islândia, Suíça e Liechtenstein --países não membros da UE--, bem como com o Canadá.

O governo Trudeau no Canadá também sinalizou que quer negociar uma solução para uma disputa sobre os subsídios para a fabricante de aviões Bombardier que o Brasil ameaçou recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC), disse Pereira.

"Vai ser um ano divertido no mínimo, de bastante diálogo com esses players, para tentar substituir esse aumento do protecionismo que vem aí e agora ficou mais robusto por conta da postura do novo presidente americano", resumiu.

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