Dilma pede redução de juros durante cerimônia do Plano Brasil sem Miséria: queda da taxa torna o país mais parecido com o resto do mundo (Roberto Stuckert Filho/Presidência da República)
Da Redação
Publicado em 24 de julho de 2012 às 11h10.
Rio de Janeiro - O Brasil vai atravessar, nos próximos três ou quatro anos, uma grande mudança na área financeira, disse hoje (23) o economista Ernani Teixeira Torres Filho, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ).
“A queda da taxa de juros é só a cereja do bolo que faltava para o mercado mudar e tornar o Brasil mais parecido com o resto do mundo”, disse Torres Filho, ex-superintendente da Área de Pesquisa Econômica do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ele participou do seminário O Brasil e o Mundo em 2022, evento comemorativo aos 60 anos do BNDES.
Torres Filho acredita que as empresas e bancos vão começar a mudar e, nesse cenário, o BNDES também vai se transformar. “Ele [o BNDES] não vai crescer como um banco de crédito da mesma forma, porque o país vai em direção a utilizar créditos securitizados [títulos do Tesouro Nacional, emitidos em decorrência de recebimento e renegociação de dívidas da União assumidas por força de lei]. As empresas vão começar a lançar mais títulos”.
Com isso, o mercado de títulos no Brasil, que ainda é reduzido e controlado por bancos, na opinião do professor da UFRJ, tende a crescer e o BNDES acompanhará essa transição. A tendência é que o BNDES se firme cada vez mais como um banco de fomento de longo prazo.
A ideia é que o BNDES seja um banco de longo prazo, mas com flexibilidade. ”Ele tem que ser um banco capaz de ocupar espaços ou de responder à necessidade da economia a cada momento. Se o mercado privado se retrai e não dá crédito curto, eu acho que o BNDES entra, dá crédito curto, e sai”. Torres Filho acredita que assim que o mercado privado se aproximar do financiamento de mais longo prazo, o BNDES dará crédito ainda mais longo.
O professor da UFRJ advertiu que em uma concorrência aberta, dificilmente o BNDES terá capacidade de concorrer de igual para igual com o mercado privado, porque não tem as contas dos clientes nem todos os produtos financeiros que a rede privada oferece. “Ele [BNDES] tem uma especificidade. A flexibilidade de um banco que tem 20% do sistema de crédito na mão não é pouca coisa”, acredita.
Torres Filho reiterou que para cumprir o seu papel de banco de fomento, o BNDES precisa ser flexível. Para ele, os 60 anos do BNDES, completados este ano, mostram que a trajetória da instituição foi clara nessa direção.