Economia

Brasil tem superávit primário recorde de R$ 30,25 bilhões

O resultado ficou acima do esperado por analistas consultados pela Reuters, cuja mediana era de saldo positivo de R$ 22,8 bilhões


	Em 12 meses até janeiro, a economia feita para pagamento de juros foi equivalente a 2,46 por cento do Produto Interno Bruto (PIB)
 (USP Imagens)

Em 12 meses até janeiro, a economia feita para pagamento de juros foi equivalente a 2,46 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) (USP Imagens)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de fevereiro de 2013 às 16h19.

Brasília - O Brasil fechou janeiro com superávit primário recorde de 30,251 bilhões de reais, alimentado pela forte arrecadação no período, mas as preocupações sobre a performance fiscal no ano ainda persistem diante a lenta retomada do crescimento econômico.

Segundo informou o Banco Central nesta quarta-feira, o resultado no primeiro mês do ano veio da economia fiscal de 26,088 bilhões de reais do governo central --governo federal, BC e Previdência Social--, diante da arrecadação também recorde vista no período, de 116 bilhões de reais.

Já a economia feita por Estados e municípios --que junto com o governo central e empresas estatais formam o setor público consolidado-- foi de 4,212 bilhões de reais no mês passado, enquanto as estatais registraram déficit primário de 49 milhões de reais.

O superávit cobriu com folga a despesa com juros no mês, de 22,649 bilhões de reais. Com isso, o setor público consolidado registrou superávit nominal --despesa menos receita, incluindo pagamento de juros-- de 7,602 bilhões de reais no mês passado.

Com a performance do mês passado --que ficou acima da mediana das expectativas de analistas consultados pela Reuters, de 22,8 bilhões de reais--, o governo já conseguiu cumprir 19,4 por cento da meta cheia de primário deste ano, estipulada em 155,9 bilhões de reais.

Para o professor da PUC de São Paulo e especialista em contas públicas, Waldemir Quadros, este ano será difícil para o governo cumprir a meta cheia de primário diante da dificuldade da economia em deslanchar, pois se de um lado há pressão para reduzir impostos, por outro a arrecadação depende do crescimento.

"Não dá para prever um ano muito auspicioso", disse ele.

O próprio governo já indicou que o objetivo cheio de primário não será alcançado em 2013, e informou que o desconto neste ano pode chegar a 65 bilhões de reais.


Na prática, o governo trabalha, até o momento, com possibilidade de abatimento 45 bilhões de reais, entre investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e desonerações tributárias. A preocupação é fazer a economia deslanchar, cuja projeção do mercado de crescimento está em torno de 3 por cento neste ano.

Para o BC, o resultado de janeiro pode indicar um cenário fiscal mais favorável, mas ainda acha cedo para dizer se será suficiente para assegurar que o desconto de 45 bilhões de reais pode ser menor.

"Esses limites (de abatimento) foram estabelecidos com o intuito de dar flexibilidade para a condução da política fiscal ao longo do ano. Vamos aguardar os resultados, como virão as receitas ao longo do ano para fazer essa avaliação (sobre a necessidade de abatimento da meta)", disse o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel.

No ano passado, o setor público consolidado também apresentou resultado primário importante em janeiro (26,016 bilhões de reais), mas as contas somente foram fechadas com manobras fiscais no final do ano. O governo usou recursos do Fundo Soberano, antecipou o pagamento de dividendos de empresas estatais e descontou da meta cheia 34,9 bilhões de reais dos investimentos do PAC para cumprir seu compromisso fiscal.

DÍVIDA EM QUEDA

A relação entre dívida pública e Produto Interno Bruto (PIB) fechou janeiro em 35,2 por cento e, para fevereiro, o BC estima estabilidade. Em dezembro, a variável havia ficado em 35,1 por cento e, no final de 2011, em 36,4 por cento.

Apesar de acreditar que o governo não vai conseguir cumprir a meta de superávit primário neste ano, que equivale a cerca de 3,1 por cento do PIB, o economista-chefe do Goldman Sachs, Alberto Ramos, acredita que a relação dívida/PIB vai continuar com trajetória descendente.

"O superávit menor não deve, contudo,comprometer a trajetória de queda moderada da relação dívida líquida/PIB", escreveu ele em nota, acrescentando que, para 2013, o primário deve ficar entre 2 e 2,5 por cento do PIB.

No acumulado em 12 meses até janeiro, o superávit alcançou 109,2 bilhões de reais, equivalente a 2,46 por cento do PIB.

O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, já havia defendido que o Brasil já não precisa ter superávits primários elevados para melhorar seu endividamento, uma vez que as despesas com juros estão menores.

*Matéria atualizada às 16h18

Acompanhe tudo sobre:Banco Centraleconomia-brasileiraIndicadores econômicosMercado financeiroPIB

Mais de Economia

BB Recebe R$ 2 Bi da Alemanha e Itália para Amazônia e reconstrução do RS

Arcabouço não estabiliza dívida e Brasil precisa ousar para melhorar fiscal, diz Ana Paula Vescovi

Benefícios tributários deveriam ser incluídos na discussão de corte de despesas, diz Felipe Salto

Um marciano perguntaria por que está se falando em crise, diz Joaquim Levy sobre quadro fiscal