Economia

Brasil tem pior resultado da história em competitividade

Com desempenho econômico ruim, Brasil fica no 56º lugar entre 61 países em ranking do IMD, na frente apenas de Mongólia, Croácia, Argentina, Ucrânia e Venezuela


	Operário trabalhando em obra da ferrovia Norte-Sul
 (Manoel Marques/Veja)

Operário trabalhando em obra da ferrovia Norte-Sul (Manoel Marques/Veja)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 27 de maio de 2015 às 15h17.

São Paulo – O Brasil ficou na 56ª posição entre 61 países na edição 2015 do ranking de competitividade do IMD, escola suíça de negócios.

É nossa pior colocação desde 1989, primeiro ano do ranking. O Brasil perdeu 18 posições desde 2010, último ano com ganhos relativos.

A nota até melhorou um pouco em 2015, mas outros países subiram mais. Veja a evolução:

Ano Índice Posição
2009 56,865 40º
2010 56,531 38º
2011 61,043 44º
2012 56,524 46º
2013 53,222 51º
2014 46,778 54º
2015 47,930 56º

O Brasil foi superado por Bulgária (que foi da 56ª para a 55ª posição) e Eslovênia (da 55ª para a 49ª), ficando atrás apenas de Mongólia, Croácia, Argentina, Ucrânia e Venezuela.

O ranking é liderado por Estados Unidos, Hong Kong, Singapura, Suíça e Canadá, com a China em 22º. Na América Latina, os melhores lugares ficam com o Chile (em 35º) e o México (39º). Veja o top 10:

  País Sobre 2014
1 Estados Unidos Igual
2 Hong Kong Subiu 2 posições
3 Singapura Igual
4 Suíça Caiu 2 posições
5 Canadá Subiu 2 posições
6 Luxemburgo Subiu 5 posições
7 Noruega Subiu 3 posições
8 Dinamarca Subiu 1 posição
9 Suécia Caiu 4 posições
10 Alemanha Caiu 4 posições

O levantamento é feito com apoio da Fundação Dom Cabral (FDC) e é baseado em 4 pilares: desempenho da economia, eficiência do governo, eficiência dos negócios e infraestrutura.

Como há uma combinação de indicadores objetivos com pesquisas de opinião de executivos, o resultado também sofreu influência do clima eleitoral e de outras questões periféricas:

“A gente já imaginava uma queda em função da perda de confiança. A pesquisa é sensível a esse clima, independente de quem ganhasse a eleição. O que surpreendeu foi a influência de questões como a da água, mais crítica do que a gente esperava, e da energia, que impactou a produtividade”, diz Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC.

O país ficou em último lugar mundial, por exemplo, na percepção de corrupção e suborno pelo empresariado:

“Isso naturalmente tem que ser entendido no contexto do nosso momento e do escândalo da Petrobras, mas não alivia a mensagem de que estamos na rabeira”, diz Carlos Braga, professor de economia internacional do IMD.

Os especialistas falam também em um efeito “rainha de copas”: competitividade é uma corrida, e é preciso se mexer só para não sair do lugar. Veja os 5 países que mais subiram no ranking:

País Posição em 2015 Alta
Itália 38ª 8 posições
Portugal 36ª 7 posições
Grécia 50ª 7 posições
Catar 13ª 6 posições
Lituânia 28ª 6 posições

E os 5 que mais caíram:

País Posição em 2015 Queda
Ucrânia 60ª 11 posições
Letônia 43ª 8 posições
Rússia 45ª 7 posições
Japão 27ª 6 posições
França 32ª 5 posições

Desempenho econômico 

As maiores perdas brasileiras foram no quesito “Desempenho da Economia”. Apesar de uma boa posição em investimentos internacionais, o país cresceu apenas 0,1% no ano passado, diante de um crescimento de 2,3% na economia mundial. 

Como a previsão para 2015 é ainda mais sombria, esse fator deve continuar atrapalhando nossa posição absoluta. Em termos relativos, não há muito para onde cair: nossos concorrentes do andar de baixo devem sofrer recessões ainda maiores este ano.

Eficiência do governo

Em “Eficiência do Governo”, historicamente o fator mais crítico da nossa competitividade, o Brasil ficou na frente apenas da Argentina. Um dos itens que pesaram foram as finanças públicas, com queda da 48ª para a 58ª posição mundial.

O governo registrou no ano passado um déficit primário de 0,6% do PIB, pior resultado em uma década. Não por acaso, o ajuste fiscal se tornou prioridade total do ínicio do segundo mandato Dilma, e seus resultados podem ajudar no ranking do ano que vem.

“O Brasil precisa resolver a questão da estabilidade do Orçamento. Com a queda das commodities e do crescimento, o governo está arrecadando menos e continua gastando mais. As ações que foram anunciadas semana passada são prioritárias”, diz Arruda.

Dois pontos positivos: a reserva em moeda estrangeira (6ª posição mundial) e os subsídios públicos (3ª posição). O sumário do ranking destaca “a ação do BNDES como incentivador do progresso econômico no Brasil”, mas Arruda ressalta que isso é “um paliativo, não cura pra doença”.

Eficiência dos Negócios

A eficiência empresarial no Brasil perdeu 24 posições nos últimos 4 anos. Só no ano passado, a queda foi de 2 dígitos em “mercado de trabalho” (de 32º para 43º), “práticas gerenciais” (de 36º para 49º) e “atitudes e valores” (de 39º para 49º).

“É um efeito chicote; consequência e não causa. A Argentina viveu esse drama nos anos 90: uma perda macro que reflete na agenda micro. Quando perde competitividade, o setor empresarial investe menos em inovação e treinamento, se volta para dentro e adota estratégias mais conservadoras”, diz Arruda.

Como o desemprego é baixo e a qualidade do capital humano patina na comparação internacional, aumentar o produto por trabalhador se tornou central para fazer a economia voltar a crescer e continuar reduzindo a pobreza, segundo o Banco Mundial.

“O calcanhar-de-aquiles da economia brasileira é a produtividade. É um problema de toda a politica de educação e tecnologia, mas tem a ver também com o fato de que entre as economias de grande porte, somos a mais fechada em termos de protecionismo”, diz Braga.

Infraestrutura

Ele também cita a infraestrutura como o outro principal gargalo. Nesse pilar, o Brasil também é ponto fora da curva entre as grandes economias e não apresentou mudança significativa de um ano para o outro.

“O Brasil está entre as piores posições desde a década de 80. No final do governo Lula, houve um compromisso de avançar com o PAC, mas a execução ficou bem abaixo do previsto. Perdemos a oportunidade de usar aquele momento favorável para avançar uma agenda de reformas e estamos colhendo os frutos disso”, diz Arruda.

Nossas melhores posições são em infraestrutura científica (39º lugar) e de saúde e meio ambiente (44º). As piores são em infraestrutura básica (59º) e tecnológica (56º). Para Braga, dá para ver uma luz no fim do túnel no momento atual:

“Os passos que o governo começou a tomar em parcerias e mudança de regulamentação devem ajudar, mas vai levar um tempo. É uma questão de oportunidades de negócio: somos atrativos nesta área se as regras forem favoráveis. Só o setor privado nacional e estrangeiro que pode permitir esse salto.”

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