Para os diretores, o cinema nacional precisa de mais tempo, roteiros melhores, menor burocracia institucional e novos mercados (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 3 de maio de 2012 às 15h24.
Chicago - A produção de cinema no Brasil já conta com as bases para se transformar em uma indústria cultural graças ao apoio público e às novas formas de difusão, e por isso os diretores brasileiros reunidos em Chicago, nos Estados Unidos, veem a mudança como um desafio viável.
"O Brasil vive um momento muito interessante do ponto de vista da produção de cinema, cresceu e está crescendo, e por isso já conta com as bases para construir uma primeira indústria do cinema", disse à Agência Efe o cineasta Toni Venturi, um dos diretores que visitou o 28º Festival de Cinema Latino de Chicago.
O evento dedica nesta edição uma atenção especial ao cinema brasileiro, com várias projeções, uma noite temática e 11 filmes em cartaz.
Como base de sustentação, o cinema brasileiro recebeu nos últimos anos "uma nova geração de criadores que já está fazendo seu primeiro ou seu segundo filme", o que injeta novas formas de narrar e de conceber os longas-metragens, relatou Venturi.
"Estamos atrasados com relação à Europa, mas estamos começando com as coproduções e os intercâmbios de financiamento entre países: é um momento otimista", assegurou.
Após passar seus piores momentos nos anos 1990, na última década as instituições contribuíram para a produção do cinema feito em casa.
Segundo Venturi, que apresentou o filme "Estamos Juntos" em Chicago, "na década de 90 se destruiu o sistema de financiamento do cinema brasileiro; o neoliberalismo eliminou os mecanismo de apoio, mas o sistema já está reconstruído".
Já seu colega Davi de Oliveira Pinheiro defende a necessidade das linhas de financiamento, mas detecta riscos em subvencionar os filmes em excesso.
"O cineasta tem muita responsabilidade pelo que faz com o dinheiro público, tem que servir algo às pessoas, que já pagaram por isso", advertiu.
O diretor, que aterrissou em Chicago consciente que apresentava uma das propostas mais arriscadas, ainda não estreou seu longa-metragem "Porto dos Mortos" nas salas de cinema do país.
Inicialmente Pinheiro enfrentou problemas para bancar os custos do filme e confiou nas novas formas de difusão para buscar fundos antes de fazer a filmagem definitiva.
"A internet já não é o futuro, é o presente, cada vez mais haverá filmes e mais filmes na rede. Para as que não são autofinanciadas nem contam com o apoio público será a forma de encontrar este financiamento", comentou o cineasta.
Segundo os diretores, a vida de um filme já não depende tanto da grande tela como da distribuição na televisão por assinatura, na aberta e na rede.
Pinheiro e Venturi contam que o florescimento cinematográfico do país se baseia em uma diversidade de filmes comerciais, independentes e documentários, também em realidades muito díspares.
O diretor de "Porto dos Mortos" especificou que "cada estado no Brasil é um mundo" e que "as formas de contar, o pensamento, a tradição são diferentes".
Já Venturi se mostrou mais pragmático e rodará em breve seu novo projeto, uma comédia de situações que aspira ser "mais aberta a todos os públicos" graças a "um conto tradicional adaptado para o presente".
Para estes diretores, o cinema nacional precisa de mais tempo, roteiros melhores, menor burocracia institucional e novos mercados.
O público americano, um tanto reticente em ler legendas, é tão complicado de atrair que estes diretores classificaram o Festival de Chicago como uma "exceção".